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Em 1970, um escritor ergueu a espada e abriu o próprio ventre para provar ao seu país que a palavra ainda podia matar

Em 1970, um escritor ergueu a espada e abriu o próprio ventre para provar ao seu país que a palavra ainda podia matar

Da infância vigiada em Tóquio ao uniforme azul-escuro alinhado no cabide, a trajetória acompanha um jovem que aprende disciplina em colégio tradicional, passa por uma mesa no Ministério das Finanças e decide que corpo e frase precisam da mesma firmeza. Treina, reescreve, arquiva recibos, organiza horários. Funda a Tatenokai, grupo cívico que frequenta quartéis com autorização.

László Krasznahorkai, o homem que escreveu o fim do mundo em câmera lenta

László Krasznahorkai, o homem que escreveu o fim do mundo em câmera lenta

Uma aldeia desfeita pela própria fadiga, um mapa de valas e galpões vazios, rostos que esperam junto à porta sem relógio. O rumor de um retorno corre de mesa em mesa, cresce no copo e no canto do olho. Ninguém garante nada, mas o chão escurece, a água puxa o cascalho, e a esperança encontra abrigo em vozes que se repetem. “Sátántangó” observa essa espera com paciência clínica: a frase avança poucos metros, recua um passo e insiste, e o ar frio da vila entra no leitor.

Taiguara: a tragédia do homem que quis cantar o impossível e pagou um preço alto demais

Taiguara: a tragédia do homem que quis cantar o impossível e pagou um preço alto demais

A cena abre com um piano fechado, tampo sob flanela escura, poeira correndo lenta. Lá fora, a madrugada não termina; aqui dentro, livros, partituras, um abajur aceso. Taiguara respira baixo, mede o ar, encosta a mão nas teclas mudas. O silêncio parece burocrático, dobrado e datado, como se a música já viesse carimbada. Uma etiqueta prende o país inteiro em poucas linhas. A agulha ainda não desce, mas algo vibra. A beleza quer falar.

De como me tornei um homem sexy

De como me tornei um homem sexy

Podem me chamar de sexy. Sexagenário. A piada é velha, mas não tão velha quanto eu. Há poucos dias, completei 60. Atendimento prioritário. Desconto na farmácia. Meia entrada no cinema. Cartão de estacionamento. Empréstimo consignado. Dedo no rabo. A praga de golpistas tentando me arrancar dinheiro.

O Monstro e Outras Histórias: Stephen Crane e o espelho cruel da humanidade

O Monstro e Outras Histórias: Stephen Crane e o espelho cruel da humanidade

A literatura precoce de Stephen Crane faz pensar uma coisa essencial: em que momento da vida estamos suficientemente maduros para dar uma contribuição relevante. Em qualquer área do conhecimento humano, não há dúvidas, a boa formação é necessária para um perfeito desenvolvimento. É necessário, ainda, o conhecimento acumulado, o domínio intelectual da literatura pré-existente, para que um salto estilístico seja devidamente efetuado. Stephen já escrevia aos 13 anos de idade. Também fumava e bebia, o que caracteriza uma atitude precoce para as coisas do conhecimento e do mundo.