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O amor é um tormento

O amor é um tormento

A manhã se abre entre o pão na chapa e o café amargo, mas a mesa se transforma em espaço de confissão. Orlando revela a agonia do coração materno prestes a romper, aneurisma que ameaça a vida. Maranhão convoca as sombras da própria infância: a mãe perdida cedo demais, a pobreza sem trégua, os abusos silenciados pelo tempo. Entre memórias e dores, ambos constroem uma comunhão rara, marcada pela franqueza crua da existência. No silêncio que sobra, permanece a certeza: o amor é tormento.

O melhor romance brasileiro de 2025 (até agora)

O melhor romance brasileiro de 2025 (até agora)

Um romance-dossiê que aproxima Machado de Assis do mito gótico de Drácula, “Quincas Borba e o Nosferatu” confirma o talento de Edson Aran em cruzar tradição e risco criativo. A montagem de cartas, relatórios e diários substitui o narrador onisciente por múltiplas vozes em atrito, transformando dúvida em suspense. Quincas Borba vira investigador, Brás Cubas falha com ironia e Capitu assume desejo e ação em um Rio Imperial vivo.

Há 100 anos, tentaram calar uma poeta; ela recusou o silêncio e desmascarou a hipocrisia moralista

Há 100 anos, tentaram calar uma poeta; ela recusou o silêncio e desmascarou a hipocrisia moralista

Entre vitrines novas e vigilância doméstica, Gilka Machado fez do corpo pensamento e pagou com décadas de silêncio. No Rio reformado por Pereira Passos, publicou versos que afrontaram a patrulha moral e o biografismo. Atuou no Partido Republicano Feminino desde 1910, viu o voto chegar em 1932 e manteve a escrita enquanto criava filhos, enfrentava a viuvez e organizava o legado do marido. Chamaram-na “matrona imoral”; ela respondeu com ofício. Drummond a definiu como a primeira mulher nua da poesia brasileira: nudez da língua, não da pessoa, sem pedir licença.

Pagou para publicar o único livro. Viveu na pobreza. Morreu aos 30. E virou lenda incômoda da poesia

Pagou para publicar o único livro. Viveu na pobreza. Morreu aos 30. E virou lenda incômoda da poesia

Nasceu em 1884, em Sapé, Paraíba, entre canaviais e rachaduras de engenho. Estudou Direito no Recife, deu aulas, escreveu em jornais, exerceu cargos públicos. Mudou-se em 1914 para Leopoldina, Minas Gerais, para dirigir um grupo escolar; ali a tosse virou sentença. Morreu em 12 de novembro, às quatro da manhã, com 30 anos, de pneumonia. Entre a Abolição e a República, atravessou um país que trocava velhos rituais por promessas de progresso. Sua biografia breve guarda fome de precisão, sensibilidade aguda e uma coragem incômoda de nomear o mundo inteiro.

O dia em que a música brasileira ficou órfã: há 36 anos o Brasil chorava a partida do maluco beleza Foto / Dan Dickason

O dia em que a música brasileira ficou órfã: há 36 anos o Brasil chorava a partida do maluco beleza

Há 36 anos, o Brasil perdeu seu maluco beleza e a música brasileira ficou órfã. A morte foi notícia, mas o que permaneceu foi a obra: canções que atravessam décadas, de vitrolas e rádios de pilha até playlists digitais. Do garoto de Salvador ao artista inquieto dos palcos, Raul transformou falha em verdade, contradição em poesia, rebeldia em legado. Hoje, sua voz ainda interrompe conversas em bares, festivais e rodas de amigos, lembrando que alguns refrões nunca envelhecem.