Recorde insano: este livro tem uma única frase com mais 1.280 palavras (e você achava que escrevia demais)
A frase se arrasta como um rio que esqueceu de desembocar no mar, cresce em redemoinhos que se repetem, que se ampliam, que retornam, como se a linguagem em si tivesse sido lançada ao delírio de narrar sem parar, um balbucio ritmado, controlado pela angústia da memória e pela obstinação da culpa, enquanto o leitor, coitado, já perdeu a conta das vírgulas e dos sujeitos, já desistiu de encontrar o verbo principal, mas segue, hipnotizado por esse fluxo que não flui, esse tempo que não passa, essa frase que parece escrita por alguém que nunca mais dormiu.