O livro argentino que vai te deixar em ressaca literária por mais de 365 dias

O livro argentino que vai te deixar em ressaca literária por mais de 365 dias

Naquela madrugada em Buenos Aires — talvez um dia comum, talvez o último — uma mulher atravessava a rua segurando um embrulho que escorria algo vermelho pelas dobras do papel, mas ninguém a olhou nos olhos, tampouco ao chão. Na rua ao lado, um homem com sapatos gastos recitava números sem fim, como se fossem preces ou apostas ou ambas. E por trás de tudo isso, muito antes disso tudo, muito abaixo da cidade e da carne e dos nomes, há um livro. Não um livro que se lê. Um livro que se entra. Que se tropeça dentro. Um livro que range como madeira velha e sorri com os dentes de um rato. E quando se sai — se é que se sai — o tempo já não está mais no mesmo lugar.

5 livros que vão dar um nó no cérebro do leitor

5 livros que vão dar um nó no cérebro do leitor

A leitura é um esporte radical para quem prefere sofrer no silêncio do próprio cérebro. Enquanto uns buscam romances leves como quem procura sombra e água fresca, há quem sinta prazer em tropeçar em narrativas que não pedem licença antes de desmoronar em cima da lógica. Esses livros não são só desafiadores, são o equivalente literário de um cubo mágico derretido, resolvido por um polvo filósofo sob efeito de cafeína

8 romances japoneses tão contidos quanto devastadores

8 romances japoneses tão contidos quanto devastadores

Há livros que se impõem com enredo, reviravolta, velocidade. E há outros que se aproximam de lado, com delicadeza e lentidão, até que — sem ruído — atravessam você. Os romances japoneses reunidos aqui pertencem a esse segundo tipo: não tentam impressionar, mas transformam. São contidos, cheios de nuance, sustentados por personagens que raramente gritam, mas que doem em silêncio. E no fim, o que fica não é uma lição, mas uma presença. Como se algo ainda estivesse respirando depois da última página.

Os Demônios como exorcismo literário: Dostoiévski entre o abismo e a profecia

Os Demônios como exorcismo literário: Dostoiévski entre o abismo e a profecia

Dostoiévski não escreveu apenas romances — escreveu abismos. Sua literatura antecipa os colapsos morais e políticos que moldaram os séculos seguintes. Ao criar personagens possuídos por ideias, ele não dramatiza o indivíduo, mas disseca os vírus da modernidade: o niilismo, o fanatismo, a fé deformada, a razão corrompida. Não há heróis, há vozes em ruína. E ao invés de redenção, o que se oferece é ruído, vertigem, revelação. Neste ensaio, atravessamos a escrita como quem cruza um incêndio espiritual. Porque às vezes é preciso contemplar o mal de perto para entender de onde virá — e como reconhecer.

Haruki Murakami: um autor com 50 livros sobre a mesma pessoa

Haruki Murakami: um autor com 50 livros sobre a mesma pessoa

O som do elevador subindo lentamente, como se tivesse consciência de que ninguém estava esperando. O cheiro de papel guardado por décadas, mofado e morno, como a memória dos lugares em que nunca se esteve. Um disco girando sem agulha, um gato observando do vão da porta, a mulher atravessando o quarto com um casaco vermelho que talvez ele só tenha imaginado. Era terça-feira, ou parecia ser. Às vezes a vida se repete com um atraso de trinta segundos. E nesse intervalo — entre o quase lembrar e o não saber — alguém começa a escrever, como quem espera não ser encontrado. Como em “Kafka à Beira-Mar”, mas com menos metafísica e mais poeira.