Que se dane. Vou ser feliz na chuva

Ninguém gosta de sofrer, por suposto. Estava tão afetado nos últimos tempos, que se sentia um náufrago com hidrofobia e se dispunha a acreditar em qualquer coisa que lhe apresentassem como a redenção. E por falar em Redenção, uma índia emigrante do Pará que fazia faxinas na casa da vizinha ao lado foi logo oferecendo a ele — o desacorçoado — uma garrafada de ervas que consistia numa mistura exótica de extrato de ayahuasca-diet, caldo de chavasca e pinga de passarinho, tudo isso envasado numa garrafa de Velho Barreiro.

Vemos através do que somos. Se somos ódio, cegos de ódio seremos

A afirmação de que todos nós precisamos de um espelho para nos lembrar quem somos é seminal. Porque somos o resultado das nossas colheitas e, se foram boas ou más, elas seguramente influenciarão o nosso juízo diante do novo. Vemos através do que somos. Se somos amor, veremos com amor. Se somos ódio, cegos de ódio seremos. Os ciclos se abrem e se fecham, se puxam, somam, enredam uns nos outros. Se remoermos tristeza, atrairemos rancor. Assim como a esperança traz felicidade e a gratidão leva a paz. É o olhar que direciona a nossa perspectiva.

Só leia se estiver procurando um amor

Só leia se estiver procurando um amor

Não há como amar, tampouco ser amado, quando as suas ações são regidas por sentimentos que o afastam o tempo todo. Um olhar de ódio para tudo e para todos leva a um vício: o de reclamar. Se nada for bonito, encantador, terno e apaixonante, a vida será sem graça, é óbvio. O amor precisa de espaço para entrar, para chegar. Precisa de portas abertas, de olhar calmo, de leveza, de paixão, de sorrisos e, se houver arte, se houver música, vai ser mais fácil.

A vida é só um grande livro de colorir. Pinte a sua como quiser!

A vida é só um grande livro de colorir. Pinte a sua como quiser!

E agora essa moda de esculhambar outra moda, a dos livros para colorir, me dá uma vontade louca de perguntar: será que nós não temos nada melhor para fazer mesmo? Não, eu não estou me dirigindo a quem deu de passar o tempo colorindo as ilustrações em branco dos novos best sellers. Cada um há de fazer o que bem quiser com seu tempo. Eu me refiro, sim, a quem aceita passar o tempo chovendo no molhado com um milhão de teses superficiais e bobocas sobre o sucesso dos chamados “cadernos de atividades”.

Arrancando o véu ao politicamente correto e moralmente safado

Arrancando o véu ao politicamente correto e moralmente safado

Os olhos da alma que se debruçam sobre o horror como que se emudecem — molhados e tristonhos, quando cedem à tentação de espiar o cortejo dos crimes como espetáculo, divulgados na web. Decrescemos em humanidade quando soçobramos, cedendo à tentação midiática, e damos uma espiadela nos porões do espetáculo de horror em que se tornou nossa política internacional, de guerra a guerra, passando do hediondo à catástrofe em dois quadros rápidos do noticiário na TV.