Entre os gestos mais involuntários do mundo está o ato de indicar um livro. Nem sempre, porém, as páginas abertas por uma celebridade levam a aplausos — há obras que reverberam em polêmicas, convocações ao cancelamento, reflexos éticos inevitáveis. Cinco livros de ficção, atravessando gerações e estilos, inspiraram recomendações sinceras de artistas e, logo depois, pedidos públicos de desculpas. O que faz alguém repensar uma indicação literária? O que há de tão desconfortável no texto a ponto de constranger quem antes o celebrava?

Nem todo livro vetado é proibido. Muitos seguem à venda, nas livrarias e nas mãos de leitores. Mas a decisão do Ministério da Educação de excluir determinados títulos de programas oficiais de distribuição, especialmente em redes públicas, levanta discussões importantes. O que define a escolha de um livro como “adequado” para estudantes? Quais critérios silenciam uma obra? E que mensagens deixamos escapar ao simplesmente deixá-las de fora? Em tempos de disputas sobre educação, até o que não se distribui tem peso — e consequências no imaginário de quem aprende.

No Brasil, não são apenas as opiniões que inflamam — os livros também. Entre denúncias, ofícios e investigações, certas obras sobreviveram à fúria institucional. Provocaram ações do Ministério Público, mobilizaram pais, políticos, educadores e ativistas. Ainda assim, seguem abertas sobre carteiras escolares, lidas em voz alta ou escondidas nas mochilas. O que essas obras têm em comum não é o escândalo, mas a permanência — uma espécie de resistência silenciosa, que transforma a literatura em território de disputa, símbolo de algo que nem o Estado consegue apagar.