Lançado em 2017, “Blade Runner 2049” se revela não apenas um produto cinematográfico de excelência, mas também uma reflexão inquietante sobre os dilemas contemporâneos, reafirmando sua conexão intrínseca com o filme original de 1982, dirigido por Ridley Scott. O que surpreende nesse retorno, passado mais de três décadas, é a forma como essa nova obra se insere no contexto sociopolítico atual, ressaltando que uma criação cultural só adquire real significado quando entrelaçada com as questões do tempo em que foi produzida.

Com as devidas considerações, a obra se aplica também a casais de todos os estratos sociais ao redor do mundo, demonstrando a universalidade de suas reflexões. Como filho do teórico literário Jonathan Baumbach e da crítica de cinema Georgia Brown, Noah canaliza em sua narrativa as aflições de dois intelectuais cujos caminhos se encontram em direções opostas. Enquanto um tenta manter o resto de sua prestígio, a outra avança de maneira quase descuidada, e ambos acabam sucumbindo à vaidade, observando impassíveis a desintegração de sua relação.

“Jogo Justo” explora com intensidade a corrosão de um relacionamento quando o equilíbrio de poder se inverte. Emily e Luke, um casal ambicioso de Nova York, veem suas vidas virarem de cabeça para baixo quando ela é promovida e se torna a chefe dele. A promoção desperta ressentimentos profundos em Luke, que passa a questionar sua masculinidade e o futuro de ambos. O filme aborda, com tensão crescente, o impacto do sucesso feminino em um mundo ainda dominado por expectativas patriarcais.

Tipos a exemplo de Mikey Saber, um ex-astro da indústria do entretenimento adulto, são a fina flor do lixo branco da América. Para corroborar tal ideia, Sean S. Baker, o diretor do ótimo “Red Rocket”, crava seu filme com passagens da primeira campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, em 2016. É também a partir desse ponto que Baker começa a mover seu filme, dispondo do caudaloso roteiro escrito com Chris Bergoch, e então nasce um épico pós-moderno sobre fracassados e malandros, uma praga acima do rio Grande ou em qualquer outra terra sob o sol.