Autor: Giancarlo Galdino

Não é incomum encontrar homens e mulheres que digam serem adeptos de um súbito gelo a fim de que a chama do amor arda outra vez, com mais força. Mike Flanagan faz de sua releitura fílmica de “Jogo Perigoso” a louca obsessão que passou a caracterizá-lo, um diretor metódico, que usa narrativas desse jaez como trampolim para suscitar no público a necessidade de discutir aqueles assuntos que borboleteiam de boca em boca, implorando pela devida atenção.

Para Hegel, mais que classificar as coisas e os seres como o que são, é preciso saber o que eles não são, negá-los, argumento a partir do qual se pode destituí-los de qualquer indício de normalidade e semelhança. A Revista Bula fez uma seleção de cinco filmes disponíveis na Netflix que ressaltam, cada um a seu modo, a atmosfera sinistra do homem, valendo-se do recurso de nunca permitir ao público saber ao certo qual será o próximo lance, histórias que já se tornaram clássicos do suspense em seus mais diversos matizes.

É simplesmente lastimável saber que advogados, que se formam e ganham a vida para manter o cidadão comum — em geral um leigo acerca de quase tudo o que tange ao mundo do direito — longe do submundo da ilicitude, não raro cedem à tentação de misturar leis e muitas das suas violações para se projetar na carreira, como faz um dos protagonistas de “As Duas Faces de um Crime”, de Gregory Hoblit, thriller à moda antiga com suas menções à religião e à loucura.

A história do traficante Jakob Otto, o Buba, fica especialmente saborosa graças a Bjarne Mädel, que sabe dar a seu personagem as nuanças de asco e ingenuidade que se tornaram sua marca registrada. Arne Feldhusen aproveita o sucesso de Buba, comprovado em “Como Vender Drogas Online (Rápido)”, de Matthias Murmann e Philipp Käßbohrer, e dá a ele um filme para chamar de seu, em que Mädel corresponde às expectativas em torno de seu trabalho enquanto se renova.

A genialidade de Chung Mong-hong em “A Sun” ensina que, de fato, o sol pode ser o que há de mais justo no mundo, mas só pode iluminar e emprestar seu calor a ambientes que se abram para ele. Corremos o risco todos, orientais ou não, de ficarmos para sempre retidos no torvelinho de covardia, ignomínia e misérias pessoais que varre a existência do homem de tempos em tempos desde sempre, maldição para a qual a única cura ainda é o gasto e redentor livre-arbítrio.