Autor: Enio Vieira

Além das listas: a literatura na era digital do novo Brasil

Além das listas: a literatura na era digital do novo Brasil

A recente publicação da lista dos 25 melhores livros brasileiros do século 21 pelo jornal “Folha de S. Paulo” provocou um burburinho típico do nosso tempo. As indignações, os comentários precipitados, os rankings alternativos no X e o já tradicional “ninguém leu, mas todo mundo opinou”. Não era só uma lista colocada no debate público, mas também um diagnóstico, ainda que involuntário, de onde estamos culturalmente. A lista mostrou o que se escreve, como, quem escreve, lê e se sente autorizado a julgar.

A educação sentimental de Bob Dylan Divulgação / Walt Disney Studios Motion Pictures

A educação sentimental de Bob Dylan

A Nova York que o filme retrata é, antes de tudo, um sistema vivo. Nos cafés apertados do bairro Greenwich Village, os músicos, críticos, produtores e espectadores formam uma rede densa, onde tudo — canções, opiniões, contratos, amizades — circula, se mistura e se transforma no começo dos anos 1960. O filme é particularmente sensível ao sistema da música folk. O que se vê na tela é uma verdadeira esfera pública em miniatura, na qual onde arte e vida estão profundamente entrelaçadas.

Neil Young e suas múltiplas faces Foto / Ben Houdijk

Neil Young e suas múltiplas faces

A devoção no rock costuma ser coisa séria. Há algo de enigmático e poderoso na maneira como certos artistas conquistam seguidores fiéis, para além de estilos e gerações. Um exemplo desse fenômeno é a paixão que fãs de punk e heavy metal desenvolveram, no final dos anos 1980, por Neil Young. Um artista canadense cuja trajetória vai do folk acústico, do country a um rock intenso, com guitarras distorcidas e vocais melancólicos. Essa combinação fascinou o grunge do Pearl Jam, os maiores herdeiros do músico.

O mal-entendido do Brasil, segundo o teatro da Companhia do Latão Divulgação / João Maria

O mal-entendido do Brasil, segundo o teatro da Companhia do Latão

As mutações pelas quais passa o Brasil hoje deixam a maioria dos observadores sem entender o rumo do país. Alguns arriscam dizer que estamos num momento de “queda do Império Romano”. Os hábitos mudam, as escolhas religiosas também se deslocam, e a sensação de uma vida ruim está na conversa trivial com o vizinho de porta, o motorista de aplicativo, a moça que atende na padaria.

Motel Destino e a próxima nação brasileira Divulgação / Globo Filmes

Motel Destino e a próxima nação brasileira

Os filmes brasileiros vêm desenhando o melhor quadro dos acontecimentos recentes no país. Estão nas telas os sinais do que já ocorre, os sonhos embutidos nas cabeças das pessoas e também os delírios e as alucinações. O mais recente filme dessa onda é “Motel Destino” (2024), de Karim Aïnouz, que dá sequência a uma das carreiras mais sólidas hoje na produção nacional. Ainda mais pertinente é o olhar dele para uma história que se passa em Fortaleza, no Ceará, num universo muito particular.