Autor: Eberth Vêncio

A vida é dura como um osso, mas tem lá o seu sabor

A vida é dura como um osso, mas tem lá o seu sabor

Vocês sabem, os cães são criaturas perspicazes, mas, a despeito do que muita gente imagina, eles não entendem tudo o que um ser humano fala e sente. Não. Não é bem assim. Nem a gente mesmo compreende os redemoinhos que esvoaçam por dentro, quem dirá, o adorável melhor amigo de um homem. Pior: ali nos encontrávamos, uns perdidos comendo pizza sob a luz do luar, enquanto arquitetávamos o que fazer para que ele reencontrasse a sua casa, o seu dono, o seu próprio capacho de dilemas. Pena que o bicho refugasse o chope que despejei na concha da mão para que ele lambesse. Ele não lambeu; eu, sim. Parecia um cachorro decente com histórias mais interessantes que a maioria dos homens com os quais eu andava tratando nos últimos dias.

Sinto informar que amor não vence no final

Sinto informar que amor não vence no final

No pesadelo que sonhei acordado joão matava tereza que matava de amores raimundo que morria de medo da polícia que subia o morro armada até os dentes e matava suspeitos muitos deles negrinhos desdentados que matavam serviço o tal do trabalho que enobrecia o homem e enriquecia outros homens que lotavam as igrejas com matilhas de homens em prol da fé que removia montanhas.

Só passei pra dizer que não concordo com você em gênero, número e grau

Só passei pra dizer que não concordo com você em gênero, número e grau

Suponho que este será um dos mais esdrúxulos, mal humorados e desprezíveis textos que já psicografei do meu eu interior, não apenas nesta vida, mas em todas as minhas existências pregressas. Eu também tô sentindo aquele sabor amargo na língua: é de reencarnar pica-pau do oco, cara. Vista logo a sua fantasia de padre exorcista e me livra dessa. Senão, pare de ler essa joça agora mesmo, vai pra matinê do Jóquei e se cale para sempre. Não diga que não avisei.

Loucura mesmo é ser livre

Loucura mesmo é ser livre

Sou o louco mais domesticado que conheço. E não há quem se sinta mais decepcionado com isso do que eu. Acredite: um dia, já tive gana e frescor nos olhos. É uma pena. Não foi apenas um equívoco, mas, uma crueldade deixar que morresse à mingua a criança que brincava de se esconder nos labirintos de mim. Quem se importa com tamanha insegurança? De uma coisa, ao menos, não tenho certeza: é lastimável não levar a vida que se sonha.