Autor: Eberth Vêncio

Por que Deus permite que as mães vão-se embora?

Por que Deus permite que as mães vão-se embora?

Minha mãe tem quase oitenta e fica enfezada, não gosta nem um pouco do jeito desbocado com o qual lhe testo a fé e a paciência. Faço isso de propósito, para atazanar na dose certa, para exercitar os seus neurônios e coronárias. É preocupante: ela anda com lapsos de memória e palpitações. Ela fica furiosa. Então, levanta, vai coar um café a meu gosto: forte e com pouco açúcar. Ela usa um coador de pano encardido, enfiado dentro de um bule surrado que, de tão antigo, parece ter pertencido a Cora Coralina, antes dela se tornar uma poeta famosa.

Viver é esquisito

Viver é esquisito

Não tenho planos de morrer logo, portanto, se tudo correr bem, vou permanecer vivo tempo suficiente para perder vitalidade, definhar, adoecer e arriar de vez, feito a bateria do meu carro. Sim. Viver é esquisito. Mesmo assim e, por causa disso, até mesmo para manter a mente e o corpo minimamente saudáveis e ocupados com tribulações menos inquietantes do que as fatigadoras crises existencialistas, espero trabalhar até morrer ou ficar louco.

As 10 melhores canções de Belchior

Acho que compreendo o que Belchior sentia no seu exílio voluntário. No fundo, eu penso que ele tenha entregado os pontos. Isso é um palpite, um sentimento muito pessoal, pois, eu quase sempre sofro do mesmo ímpeto de jogar a toalha: eu acredito que ele tenha optado em se postar fora do jogo, que ele tenha se recusado, peremptoriamente, a viver a vida tal e qual a vivemos no planeta, em especial, no Brasil, um país de povo inculto, sofrido, desonesto, matreiro, religioso, hipócrita e feliz.

As 10 melhores canções do Pink Floyd

As 10 melhores canções do Pink Floyd

O clima londrino fazia um bem desgraçado aos meus pulmões. Após concluirmos mais uma enquete com os leitores da Revista Bula, os quais elegeram “As 10 Melhores Canções do Pink Floyd” em todos os tempos, por meio de votação nas redes sociais, o editor chefe me enviou dentro de um baú para o velho continente, a fim de que eu tratasse com fog a minha velha tosse canina, além de ter me incumbido da extasiante missão de visitar um reduto para fãs do Pink Floyd em Londres. Eu já sabia: o rock estava morrendo.

Eu comeria o seu cérebro

Eu comeria o seu cérebro

Quando nós nos conhecemos, você disse que comeria o meu cérebro. Pensei que estivesse bêbada. Ou drogada. Ou surtada. Ou menstruada. TPM ninguém sabe. Fiquei estupefato. Fui pego de surpresa durante um porre coletivo civilizado num vernissage. Achei o comentário bizarro, pois, levei a coisa toda ao pé-da-letra, no sentido literal. Eu demorei a sacar que aquilo era uma espécie de elogio.