Autor: Eberth Vêncio

Queimando por dentro como a Catedral de Notre-Dame

Queimando por dentro como a Catedral de Notre-Dame

Desde que a família sumiu do mapa de uma forma tão estúpida e impensável, Sue Mae decidiu lidar com a dor e o sofrimento alheios para driblar a própria miséria. A filantropia fazia bem à sua pele. Morreu por volta dos setenta. Era uma de minhas leitoras mais assíduas e cuidadosas, uma pessoa que verdadeiramente se interessou pelo que eu tinha a dizer nos meus textos, a ponto de ter a delicadeza de opinar a respeito do conteúdo, quase sempre discordando de tudo.

O evangelho segundo a primeira garota que está sentada ali na fila

O evangelho segundo a primeira garota que está sentada ali na fila

A semana é santa, ninguém é santo e quem anda à flor da pele é o danado-do-capeta. Recos do exército brasileiro fuzilaram com 80 tiros um brasileiro-de-cor que trafegava com a família pela Rua da Amargura, no Rio, um trajeto que ele conhecia de cor e salteado. O capô ficou todo perfurado. Abilolados, os caras da polícia técnico-científica xingavam a todo instante sempre que perdiam a conta dos buracos na lataria.

Não saque a arma, benzinho. Eu te amo

Não saque a arma, benzinho. Eu te amo

Espera um pouco aí. Eu te amo. Esqueça tudo o que eu te disse. Você tem razão. Aonde é que eu estou com a cabeça? Eu te amo muito, muito, muito. Sempre te amei. Você é o grande amor da minha vida. Por favor, não atire. — Tarde demais pra chorar, gracinha. — Não faça isso comigo. Eu peço perdão. Para. — Feche os olhos, faça um pedido e conte até três.