Autor: Eberth Vêncio

O primeiro casamento gay a gente nunca esquece

O primeiro casamento gay a gente nunca esquece

Ambiente limpo. Cheirinho de flores do campo. Feijoada no fogo. Chope gelado. Almoço para 60 talheres. Cerimônia íntima, foi o que me disseram, só para “os mais chegados”. Não sabia que alguém se achegasse tanto a mim, a ponto de me convidar para um evento tão crucial quanto um matrimônio ou um fuzilamento. Não tinha padre. Não tinha pastor. Não tinha culto ecumênico, nem rissole frio.

Tarde demais para ser triste

Tarde demais para ser triste

Quando voltar a chover. Quando a vacina chegar. Quando sair aquela promoção na empresa. Quando o amor vier. Quando a gente se casar. Quando fizermos neném e ele chutar a sua barriga. E se for uma menina? Quando der os primeiros passos. Quando tirarmos os pés da lama. Quando o Dalai Lama desencanar com a humanidade.

A minha vida aqui é uma desgraça

A minha vida aqui é uma desgraça

A minha vida é uma desgraça. É problema o tempo todo. Não tenho paz para absolutamente nada. Um cano que vaza. Um disjuntor que fecha curto. A chuva que molha. O sol que esquenta. Os raios que caem duas vezes no mesmo lugar. Os furibundos da bancada da bala. Os moribundos que morrem de gripe.

Poucas e boas para você não votar em mim

Poucas e boas para você não votar em mim

Farei conchavos com a chuva. Se ela cair, eu me levanto e danço. Nunca mais vou tratar a chuva como ranço de tempo ruim. Ruim é não chover. Ruim é não dançar. Bom mesmo é prevaricar com a lua. Finjo de morto, enquanto ela rouba a atenção do povo. Por menos gabinetes do ódio, prometo um aumento substancial do PIB (Poesia Interna Bruta) no coração das pessoas.