Autor: Carlos Willian Leite

Kafka escreveu sobre 2025 em 1915

Kafka escreveu sobre 2025 em 1915

Havia uma maçã apodrecendo numa gaveta trancada. Ninguém sabia que ela estava lá, e mesmo assim o cheiro atravessava o quarto, entrava pelas frestas das janelas, grudava no tecido das cortinas. Franz Kafka escreveu “O Processo” em 1915 como quem tivesse olhado por um rasgo no tecido da década errada. Não era um livro sobre um tempo, mas sobre a estrutura do tempo, uma arquitetura absurda que se monta sozinha, cada parede erguida por equívoco, cada escada apontando para um tribunal que talvez nem exista. Josef K. não é um personagem. É um aviso. Ou melhor, uma antecipação.

Recorde absoluto: livro que vendeu 15 milhões de exemplares e foi traduzido para 40 línguas

Recorde absoluto: livro que vendeu 15 milhões de exemplares e foi traduzido para 40 línguas

É emblemático como certos livros nos tocam antes mesmo de terminá-los, mesmo que, ao final, não saibamos exatamente por que fomos tocados. “Toda Luz que Não Podemos Ver”, do norte-americano Anthony Doerr, é um desses casos. Não exatamente pela história, que poderia soar familiar: uma menina cega em Paris ocupada pelos nazistas, um menino alemão brilhante alistado à força pela Juventude Hitlerista, mas por algo mais sutil — uma forma de olhar para o horror sem deixar que ele obscureça completamente a ternura.

Com R$ 35 mil em prêmios, concurso de contos da Revista Bula terá Cristovão Tezza e Miguel Sanches Neto no júri

Com R$ 35 mil em prêmios, concurso de contos da Revista Bula terá Cristovão Tezza e Miguel Sanches Neto no júri

A literatura de língua portuguesa acaba de ganhar um novo espaço de celebração e descoberta: o 1º Bula Prêmio de Conto. Com inscrições abertas até 31 de agosto de 2025, o concurso internacional vai selecionar contos que se destaquem pela força estética e inventividade narrativa, premiando os dez melhores com um total de R$ 35 mil. Promovido pela Revista Bula, a iniciativa busca revelar novos autores e impulsionar a produção contemporânea em português. Entre os jurados, nomes de destaque como Cristovão Tezza e Miguel Sanches Neto garantem a relevância e o rigor literário da seleção.

A nova obsessão dos leitores não é por histórias — é por validação

A nova obsessão dos leitores não é por histórias — é por validação

A literatura é um cadáver bem maquiado. Não por ter morrido, mas por ter sido preparada para a missa dos vivos. Deitou-se a linguagem num divã e pediram que ela não fosse agressiva. As histórias agora se dobram como toalhas de hotel: asseadas, simétricas, passíveis de aplauso e pós nas redes. E, claro, sem manchas. Sobretudo, sem manchas. O leitor sensível é o novo censor. Elegante, empático, atento ao sofrimento do mundo, mas com o dedo sempre no gatilho da denúncia. Ele não quer ler para sangrar; quer ler para se sentir bom.