As escolhas pessoais, mesmo as mais íntimas, estão invariavelmente entrelaçadas a fatores sociais e biológicos que moldam o curso da vida, tanto em suas glórias quanto em seus abismos. A máxima de Tolstói sobre a felicidade uniforme das famílias e as singularidades de seus infortúnios encontra novo sentido neste relato visceral, fundamentado em eventos reais. Nas mãos de Felix von Groeningen, as memórias de um pai e seu filho transformam-se em um mosaico de reflexões sobre o impacto social e individual da dependência química.
O filme parte de um núcleo familiar para construir discussões amplas e complexas, abordando o vício em drogas como uma experiência que não respeita limites, invadindo a vida alheia sem pedir licença. Alternando entre memórias calorosas e episódios de intensa angústia, o roteiro proporciona uma imersão profunda na trajetória de dois personagens centrais, cuja luta espelha as dificuldades e esperanças de muitas famílias.
Inspirado nos livros “Beautiful Boy” e “Tweak”, a narrativa transcende o drama pessoal para expor as devastadoras consequências do abuso de substâncias químicas. A direção de Groeningen emprega uma sensibilidade quase poética para equilibrar momentos de dor e resiliência, enquanto Timothée Chalamet brilha como o jovem Nic, um personagem dividido entre a busca de prazer e a destruição iminente. Contrapondo-se a essa fragilidade, Steve Carell encarna um pai que, atormentado pela culpa, navega entre desespero e determinação em sua tentativa de salvar o filho. A história não apenas lança luz sobre o vício, mas também convida o espectador a refletir sobre as escolhas e os impactos éticos e emocionais dessa jornada.
Apesar de certo descuido com as personagens femininas, Amy Ryan e Maura Tierney entregam interpretações potentes, que dão ainda mais força ao enredo. O final, embora previsível, oferece um desfecho digno, complementado por uma trilha sonora que amplifica o impacto emocional, com músicas marcantes de Neil Young, Nirvana e John Lennon. Assim, o filme revela que, mesmo diante das maiores adversidades, a luta pela redenção e a busca pela beleza na vida podem ser um norte transformador.
★★★★★★★★★★