Na efervescente década de 1920, publicações feitas com a barata polpa de celulose invadiram o mercado, oferecendo histórias que combinavam o mistério noir, a fantasia e a ficção científica em narrativas carregadas de intensidade, dentro dos limites visuais do papel rudimentar. Foi nesse cenário que Zorro, o enigmático justiceiro criado por Johnston McCulley em 1919, consolidou sua presença na cultura popular. Primeiro, em contos baratos; depois, ganhando vida nas telas dos cinemas mudos por meio de Douglas Fairbanks, Zorro iniciou uma jornada de transformações. O herói mascarado, inicialmente sombrio, evoluiu para versões diversas — cômicas, graves e até sangrentas. Em “A Máscara do Zorro”, dirigido por Martin Campbell, o anti-herói assume uma faceta inesperada, rica em complexidade.
O roteiro de Ted Elliott e Terry Rossio traz um Zorro marcado pela tragédia, recém-saído de duas décadas de reclusão. Don Diego de la Vega, interpretado com intensidade por Anthony Hopkins, emerge do cárcere em busca de propósito. Apesar do desgaste do tempo e da melancolia que carrega, ele encara o futuro com uma esperança quase teimosa, como se cada escolha fosse movida por uma intuição infalível. Não busca um final glorioso, mas um recomeço legítimo, com todas as dificuldades inerentes. Essa nova etapa, embora árdua, apresenta também possibilidades inexploradas, carregadas de significados profundos.
Diego encontra em Alejandro Murrieta (Antonio Banderas) um reflexo de sua antiga chama, canalizando nele suas aspirações por renovação e justiça. Alejandro, por sua vez, tem sua própria jornada: um jovem impulsivo, sedento por vingança após a morte de seu irmão, que precisa moldar suas habilidades e sua fúria em algo maior. É na dinâmica entre esses dois homens, mestre e aprendiz, que o filme constrói uma narrativa ao mesmo tempo eletrizante e emocionalmente carregada.
A presença magnética de Catherine Zeta-Jones, no papel de Elena, adiciona camadas ao enredo, com momentos de humor e romance que equilibram a ação e o drama. A Califórnia do século 19 recriada de forma impressionante pela fotografia de Phil Meheux e pela direção de arte impecável de Michael Atwell e Ernie Merlan. O cenário se transforma em um palco vibrante, onde o simbolismo da espada e a luta pela justiça se entrelaçam em coreografias intensas e memoráveis.
“A Máscara do Zorro” não apenas resgata o charme do herói clássico, mas também explora temas de legado, redenção e transformação pessoal. É um filme que, mesmo dentro do espectro de entretenimento puro, apresenta nuances que enriquecem a experiência, capturando tanto a grandiosidade épica quanto a intimidade das emoções humanas.
★★★★★★★★★★