Uma avalanche de séries domina a programação de TV e plataformas de streaming, todas com um propósito evidente: capturar a atenção e lançar novos talentos que prometem se destacar em projetos de maior complexidade. “Riverdale” (2017-2023), transmitida pela CW, não apenas concentrou rostos atraentes da cultura pop, mas também serviu como plataforma para jovens atores com potencial além da superfície. Entre eles, Charles Melton desponta como um exemplo claro de quem supera expectativas. Sua atuação em “Segredos de Um Escândalo” (2023), dirigido por Todd Haynes, revela um intérprete que transcende os padrões estéticos e atinge níveis inesperados de profundidade.
Outro fruto dessa safra é Camila Mendes, que brilha em “Upgrade: As Cores do Amor”, filme de Carlson Young. A produção revisita, de forma menos refinada, a narrativa de “O Diabo Veste Prada” (2006) e incorpora elementos de “Quando Encontrei Você” (2021). A protagonista vivida por Mendes percorre uma jornada em que dilemas éticos se entrelaçam com ambições profissionais, remetendo à emblemática Andrea Sachs de Anne Hathaway. Contudo, Young foge de soluções tradicionais, construindo uma heroína que rejeita o arquétipo das mocinhas clássicas.
Na trama, Ana Santos, mestre em história da arte, divide espaço com a irmã Vivian e o cunhado Ronnie. Sua única companhia é uma cópia de “O Cisne — Número 1” (1915), de Hilma af Klint, uma obra que antecipa o abstracionismo puro. A diretora explora esse contexto para aprofundar o perfil de Ana, que, entre erros e acertos, tenta encontrar seu lugar. O contraste entre a protagonista e os coadjuvantes, como a severa Claire Dupont e as assistentes manipuladoras, alimenta a tensão narrativa. A performance de Mendes, mesclando fragilidade e determinação, é o fio condutor de uma história que explora o embate entre ambição e integridade.
Em meio a mudanças e encontros inesperados, Ana é promovida, embarcando em uma jornada que a leva de Nova York a Londres. O roteiro ganha leveza com a entrada de William DeLaroche, cuja química com Ana acrescenta um toque de romance. No entanto, é Catherine, a excêntrica viúva interpretada por Lena Olin, que redefine os rumos da narrativa. Sua presença rouba a cena e oferece nuances que desafiam a frieza de Claire, vivida por Marisa Tomei.
O desfecho abraça elementos de fábula moderna, com Ana alcançando seu “final feliz” de maneira que desafia a lógica, mas preserva uma poética narrativa. A obra, portanto, equilibra humor, drama e romance, revelando-se uma história sobre reinvenção e identidade, conduzida por um elenco que, a cada cena, exibe camadas inesperadas de talento.
★★★★★★★★★★