Roel Reiné cria uma imersão profunda no universo trash com “Inferno no Faroeste”, uma trama sobre vingança e redenção que se desenrola num cenário que mistura o Velho Oeste e o sobrenatural. O enredo segue Guerrero, um fora da lei que, após ser traído e morto por seus próprios homens, é enviado ao inferno. À medida que a narrativa avança, o filme ganha contornos cada vez mais absurdos, revelando que o responsável pela morte de Guerrero foi seu meio-irmão Red Cavanaugh, com quem ele sempre teve uma relação marcada por conflitos intensos.
A traição é tão significativa que até o próprio diabo sente pena de Guerrero, concedendo-lhe uma oportunidade de voltar à vida para ajustar contas. Nesse ponto, o filme começa a intercalar sequências de ação com momentos no submundo, enquanto Guerrero persegue seu irmão pelas ruas poeirentas de Tombstone. A direção de Reiné, focada no non-sense, leva o espectador a um universo onde a lógica é abandonada em favor de uma diversão brutal e sem limites.
Os roteiristas Brendan Cowles e Shane Kuhn conseguem equilibrar a ação com toques de humor ácido, criando uma atmosfera única que mescla o bizarro com o épico. A produção é marcada por cenas de lutas bem coreografadas, tiroteios frenéticos e explosões impactantes, que dispensam o uso de computação gráfica e optam por uma abordagem mais artesanal, algo que dá um charme especial ao filme. Mesmo quem não tem afinidade com o gênero se vê envolvido pela intensidade das cenas de ação, todas conduzidas com firmeza por Reiné.
Após ser executado e descer ao inferno, Guerrero retorna com uma missão: caçar cada um de seus traidores e, principalmente, confrontar Red. Esse embate é construído de forma a expor não só a violência física, mas também a tensão emocional entre os irmãos. Guerrero, um mestiço marcado pelo preconceito e rejeição, é descrito como um homem de pele enrugada e cabelos longos e negros, o que contrasta fortemente com Red, um homem branco, bem relacionado, que parece ter aguardado pacientemente o momento certo para se livrar do irmão.
Enquanto Guerrero carrega o peso do estigma social e da exclusão, Red desfrutou de privilégios, o que torna a rivalidade entre os dois ainda mais carregada de simbolismos. Ao explorar essa dicotomia, Reiné constrói um épico de vingança e reparação, onde Guerrero, apesar de seus métodos brutais, emerge como uma figura ambígua, que oscila entre a busca por justiça e a completa insanidade. O inferno, representado no filme como um espaço sóbrio e opressor, é uma extensão da visão estilística do diretor, que opta por um visual que combina o grotesco e o surreal. Nesse ambiente, um imenso forno consome os condenados, enquanto o diabo marca os recém-chegados com ferro quente, cenas que remetem a um pesadelo vívido.
O elenco conta com nomes de peso, como Mickey Rourke, que interpreta o diabo com uma intensidade peculiar, ainda carregando a sombra de seu ressurgimento em “O Lutador” (2008). No entanto, é Danny Trejo e Anthony Michael Hall que disputam o posto de personagens mais repulsivos, cada um à sua maneira. “Inferno no Faroeste”, no fim, é uma homenagem de Reiné aos faroestes que assistia em sua infância na Holanda, uma obra autoral carregada de paixão.
Filme: Inferno no Faroeste
Direção: Roel Reiné
Ano: 2013
Gêneros: Faroeste/Terror
Nota: 8/10