Um casal de trabalhadores distribui panfletos em uma estação de trem, enquanto um repórter e seu cinegrafista os observam. Com apenas uma cena, Keisuke Yoshida aborda os dois temas mais delicados que pretende explorar em “Desaparecimento”, um thriller que reflete sobre a vulnerabilidade das famílias de baixa renda frente à voracidade de uma sociedade que prioriza o entretenimento a qualquer custo, mesmo que isso comprometa a dignidade humana. Reconhecido como uma das figuras mais proeminentes do emergente cinema japonês, Yoshida entrelaça tragédias pessoais, o papel do jornalismo irresponsável e o impacto das redes sociais, onde aventureiros e indivíduos desonestos buscam protagonismo. O resultado é uma narrativa profunda e melancólica, que se desenvolve em episódios cada vez mais sombrios, sem deixar espaço para ilusões de esperança. O diretor e roteirista enfatiza essas questões contemporâneas, conectando-as a aspectos primitivos do comportamento humano, criando uma obra de uma originalidade impressionante.
Os protagonistas Yutaka e Saori enfrentam seu cotidiano com resiliência, ainda que frequentemente se lamentem pelo desaparecimento da filha. Yoshida utiliza essa situação como um fio condutor para introduzir a suspeita sobre Keigo, irmão de Saori, que se torna um potencial criminoso por ter sido a última pessoa vista com a menina. As atuações de Munetaka Aoki, Satomi Ishihara e Yusaku Mori mantêm o público alerta para uma possível reviravolta, mas o diretor aguarda até o final para revelar os complexos detalhes dos personagens. Enquanto isso, ele foca, de forma acertada, na tortuosa jornada de Saori, que enfrenta severas críticas após ter estado em um show após a perda da criança. Nesse contexto, Tomoya Nakamura entra em cena como um repórter ciente de sua responsabilidade, mas que acaba se submetendo às exigências de superiores impiedosos, prontos para explorar o caso em busca de audiência, ilustrando a força do sensacionalismo na mídia.
O filme transcende uma mera reflexão sobre as angústias de uma vida a dois, sempre à beira do abismo após a chegada dos filhos. Yoshida habilmente equilibra esse arco dramático com uma crítica ainda mais contundente ao funcionamento de um segmento questionável do jornalismo — uma realidade que vai além do Japão. No terceiro ato, o protagonista de Nakamura se vê em conflito com sua própria consciência, refletindo sobre suas decisões e o zelo excessivo pelo trabalho, especialmente ao perceber que um colega mais jovem, disposto a agradar o chefe, é promovido por uma reportagem de baixa qualidade. A fotografia brilhante contrasta com a intensidade dos diálogos, deixando claro que o sofrimento de Saori ressoa em todos nós.
Filme: Desaparecimento
Direção: Keisuke Yoshida
Ano: 2024
Gêneros: Drama/Thriller
Nota: 8/10