Há um jeito único de provocar a inspiração em alguém, e a história de Louis Zamperini, o personagem central de “Invencível”, dirigido por Angelina Jolie, transcende esse propósito. Jolie, conhecida por seu interesse em dramas de guerra, abraça com paixão o desafio de mostrar que sua competência vai muito além da beleza, uma oportunidade que ela encontra ao adaptar o livro de Laura Hillenbrand. O romance “Invencível — Uma História Real de Coragem, Sobrevivência e Redenção”, publicado em 2010, despertou grande interesse pelo protagonista e rapidamente se tornou um best-seller, especialmente por sua narrativa cinematográfica rica em detalhes, por vezes excessivos, sobre a degradação física do herói. Jolie aproveita essa base sólida, herdada de Hillenbrand, para aplicar lições aprendidas em sua longa carreira sob a direção de outros cineastas: explorar ângulos ousados e dinâmicos em cenas que, por natureza, são estáticas.
Logo na introdução, fica claro que “Invencível” não pretende ser apenas mais um filme de guerra. A cena inicial de bombardeios aéreos durante a Segunda Guerra Mundial, habilmente roteirizada pelos irmãos Coen, Richard LaGravenese e William Nicholson, destaca soldados vigorosos e mentalmente afiados, que até encontram espaço para piadas entre as balas inimigas. Essas cenas são essenciais para que o espectador compreenda a tragédia iminente, marcada pela falha da turbina do B-29 Superfortress, pilotado pelo capitão Russel Allen Phillips, em uma missão sobre o Pacífico Norte. Domhnall Gleeson brilha nesse segmento, capturando a essência de um líder independente e altruísta, preocupado acima de tudo com o bem-estar de seus homens. Contudo, sua presença diminui conforme Jack O’Connell assume o protagonismo, consolidando-se como a grande estrela do filme.
O’Connell já acumulava experiência quando “Invencível” estreou em janeiro de 2015, e desde então, suas escolhas de papéis têm sido notáveis. Ele desafia seus limites e conquista tanto o público quanto a crítica com atuações impressionantes. Como Louis Zamperini, O’Connell vive uma trajetória intensa, passando de promessa do atletismo a soldado nas frentes de batalha, com seu físico esquelético carregando o peso literal e simbólico de um madeiro, numa metáfora crística que, apesar de apelativa, encaixa-se perfeitamente na narrativa. Em contraste, Takamasa Ishihara, conhecido como Miyavi, destaca-se como o cruel oficial japonês Mutsushiro Watanabe, cuja brutalidade contra Zamperini revela traços de uma mente perturbada e possivelmente uma paixão oculta.
A juventude vibrante dos soldados, explorada exaustivamente por Jolie no início, vai sendo corroída à medida que a trama se desenvolve, lembrando o impacto de “Nada de Novo no Front” (2022), dirigido por Edward Berger e vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023. Os jovens desiludidos e marcados pela Primeira Guerra Mundial, retratados por Remarque, têm seu reflexo em Louis Zamperini, um herói raro, tanto na ficção quanto na realidade.
Filme: Invencível
Direção: Angelina Jolie
Ano: 2014
Gêneros: Guerra/Drama
Nota: 9/10