Steven Spielberg construiu uma carreira singular na direção, sempre atento às expectativas do público e habilidoso em transformar ideias inusitadas em sucessos de bilheteria. Sua capacidade de captar o espírito da época e converter histórias aparentemente improváveis em fenômenos culturais fez dele um diretor inquieto e lucrativo. Ao mesmo tempo, Spielberg nunca se deixou cegar pela estética ou pelos números, utilizando a primeira para alcançar o segundo. “Jurassic Park – Parque dos Dinossauros” exemplifica essa habilidade, sendo o segundo grande marco na carreira do diretor, iniciado com o impactante “Tubarão” em 1975. Em “Jurassic Park”, Spielberg ressuscita criaturas extintas, mais ferozes e indomáveis do que nunca, desejosas de retomar seu domínio sobre a Terra, com a ajuda involuntária da humanidade.
O filme, baseado no roteiro de Michael Crichton e David Koepp, transforma em imagens poderosas a essência dos livros de Crichton dos anos 1990, ainda que as sequências da franquia tenham se distanciado da trama original. O enredo vasto e repleto de possibilidades narrativas permite múltiplas abordagens, com personagens diversos emergindo ao longo da história. A ilha Nublar, cenário central da trama, é um dos poucos elementos que permanecem intactos após décadas de adaptações e acréscimos, que culminaram num monstro narrativo mais aterrorizante que os próprios dinossauros, embora Colin Trevorrow tenha conseguido recuperar parte da magia original em “Jurassic World” (2015). É nessa ilha que John Hammond, um empreendedor irlandês de visão única, decide instalar seu parque, desafiando as preocupações dos investidores e o ceticismo da comunidade científica. Para garantir o sucesso do empreendimento, Hammond, interpretado com carisma por Richard Attenborough, convida um grupo variado de especialistas para avaliar o projeto: o advogado Donald Gennaro, a paleobotânica Ellie Sattler, o arqueólogo Alan Grant e o geneticista Ian Malcolm.
A trama começa a se complicar quando os visitantes testemunham a grandiosidade dos braquiossauros pastando sob sequoias gigantes, numa das cenas mais belas e poéticas do filme. A melancolia desses gigantes deslocados em um mundo ao qual não pertencem mais é palpável, como pássaros mudos em uma gaiola de ouro. Em uma sequência didática e memorável, especialmente para os jovens espectadores da época, o filme explica como os cientistas conseguiram recriar os dinossauros: extraindo DNA de um mosquito preservado em âmbar por 65 milhões de anos e preenchendo as lacunas genéticas com material de batráquios. Este detalhe se torna crucial para entender como, mesmo gerando apenas fêmeas, a população de dinossauros sai de controle.
Os dinossauros, como que vingando-se da humanidade por interromper seu longo sono, passam a perseguir os protagonistas: Sattler, Grant, Malcolm, Gennaro e os jovens Tim e Lex, sobrinhos de Hammond. Em meio às situações de perigo, Spielberg insere reflexões filosóficas que, hoje, parecem óbvias como a luz do sol na Costa Rica, de onde os sobreviventes escapam, exaustos e derrotados. “Eu não poupo despesas”, afirma o personagem de Attenborough. E a natureza, implacável, não nos poupa também.
Filme: Jurassic Park — Parque dos Dinossauros
Direção: Steven Spielberg
Ano: 1993
Gêneros: Ficção científica/Aventura/Terror/Ação
Nota: 9/10