É possível que demore, mas chegará o dia em que anjos descerão à Terra, enviados por Deus, para avaliar nosso desempenho antes de selar nosso destino. Nesse dia, saberemos se entre os muitos chamados restarão alguns escolhidos, resultando em uma guerra onde os rejeitados se rebelarão contra os favorecidos, dando início a mais um capítulo do juízo final. “Legião” explora a ideia de que somos a espécie mais desventurada da Criação. Diante disso, é inevitável que a humanidade enfrente revoluções, guerras e barbáries, perpetuando a conclusão de que o homem é o maior inimigo do homem, condenado a repetir erros eternamente, até que uma falsa solução nos iluda.
No filme de Scott Stewart, anjos tentam mitigar a ira divina, procurando seres humanos dignos de Sua confiança e amor. A tarefa é árdua, mas o roteiro de Stewart e Peter Schink mostra que nem tudo está perdido. Deus, um pai compassivo, perdoa a rebeldia humana, como no versículo onze do Salmo 34, usado na abertura. Contudo, também se enfurece com quem abusa de Sua bondade. As tragédias humanas emergem na voz de Charlie, uma jovem garçonete em uma lanchonete à beira de uma estrada. A anti-heroína de Adrianne Palicki narra os avisos de sua mãe sobre a maldade humana e a pouca fé de Deus em nós, e seu passado revela camadas de dor e abandono no deserto de Mojave.
Charlie serve como instrumento para que Stewart elabore o tema do apocalipse iminente, que um anjo caído tenta evitar. Há paralelos entre Lúcifer, que desafiou o Criador, e Miguel, que não aceita a destruição da humanidade, por mais razões que Deus tenha. Paul Bettany interpreta Miguel, um anjo sem asas, que, indignado com a humanidade, ainda sente compaixão por seu destino cruel. É no filho de Charlie que reside a esperança restante, e o diretor revela que essa criança, prestes a nascer, será entregue a outra família, como se fosse um tesouro precioso demais para uma garçonete humilde.
Nos atos finais, Stewart foca na batalha entre demônios, Miguel e os humanos que resistem, com cenas intensas que dominam o cenário. Jeanette Miller, como Gladys Foster, uma velhinha demoníaca, intensifica a exaltação da maternidade como uma forma de salvar o mundo, semelhante à abordagem de Aronofsky em “Mãe!” (2017).
Filme: Legião
Direção: Scott Stewart
Ano: 2010
Gêneros: Ação/Terror
Nota: 8/10