A existência é uma constante mudança, e quanto mais cedo se compreende a futilidade de resistir a seus desígnios, melhor. É praticamente impossível conter o fluxo incessante de novos eventos que se sucedem, tornando-se evidente que impor a própria vontade à dinâmica incandescente da vida é inútil. Com essa compreensão, a serenidade se instala. Cerca de 150 anos atrás, o mundo era ainda mais vasto e o ser humano, à mercê das circunstâncias, tentava sem sucesso entender a sociedade ao seu redor.
A invenção dos tipos móveis e, subsequentemente, a imprensa por Johannes Gutenberg em 1439, não trouxe as mudanças sociais imediatas que muitos ansiavam. Saber ler era um privilégio raro em um mundo que começava a se industrializar, mergulhado na ignorância e na exploração, especialmente nas grandes cidades. Em regiões afastadas da lei, prevalecia o rigor do Código de Hamurábi, sem espaço para a compreensão e preservação de minorias.
No filme “Relatos do Mundo” (2020), Jefferson Kyle Kidd, interpretado por Tom Hanks, é um veterano de guerra que encontra um meio de vida menos perigoso, mas igualmente estimulante: levar notícias às pequenas comunidades da América rural, uma tarefa de grande importância na difusão de informações jornalísticas da época.
O diretor Paul Greengrass, retomando sua parceria bem-sucedida com Hanks, destaca a importância do heroísmo na manutenção da civilidade, fundamental em uma nação em busca de diversidade. O filme, ambientado em 1870, toca brevemente na abolição da escravatura com a Décima Terceira Emenda em 1865, mas foca nos aspectos sociológicos do período pós-Guerra Civil Americana, retratando um cenário de grande tensão social.
O roteiro, escrito por Greengrass e Luke Davies, se passa cinco anos após a Guerra Civil Americana, que moldou o futuro democrático dos Estados Unidos. Kidd, inspirado em um personagem real do livro de Paulette Jiles, é um leitor de notícias que viaja pelo Texas, informando aqueles que podem pagar e têm tempo para ouvir.
Durante uma de suas viagens, Kidd encontra um homem negro enforcado e, logo depois, uma garota branca, Johanna Leonberger, interpretada por Helena Zengel. Johanna, criada por uma tribo Kiowa, se junta a Kidd, e juntos eles enfrentam desafios em um país ainda em formação. Greengrass utiliza este encontro para explorar questões raciais, destacando a convivência entre índios, brancos e negros, similar ao contexto brasileiro.
“Relatos do Mundo” se desenvolve como um emocionante road movie, onde Kidd e Johanna enfrentam perigos e compartilham preocupações sobre o futuro em um Oeste ainda a ser civilizado. Personagens como Ron Avalon, interpretado por Michael Angelo Covino, contribuem para cenas de ação memoráveis, como um intenso tiroteio. A trilha sonora de James Newton Howard complementa a narrativa, ajudando o espectador a entender a complexidade de viver em um país em busca de identidade, transformado em uma potência por figuras como Kidd, apesar das críticas que possam ser feitas à nação.
Filme: Relatos do Mundo
Direção: Paul Greengrass
Ano: 2020
Gêneros: Drama/Ação
Nota: 10