Últimos dias para assistir ao mistério que não vai te deixar desviar o olhar, na Netflix Jonny Cournoyer / Paramount Pictures

Últimos dias para assistir ao mistério que não vai te deixar desviar o olhar, na Netflix

“Um Lugar Silencioso” de John Krasinski evita o uso de sustos fáceis, envolvendo o espectador de maneira mais profunda e significativa. Esse filme desafia as convenções do terror, exigindo que o público espere mais das narrativas do gênero. Krasinski, em parceria com Bryan Woods e Scott Beck, cria uma história sobre uma família lutando para sobreviver em um mundo devastado por criaturas sensíveis ao som. Krasinski interpreta Lee Abbott, o pai, ao lado de Emily Blunt como Evelyn, sua esposa, e seus filhos Marcus (Noah Jupe), Regan (Millicent Simmonds) e o caçula interpretado por Cade Woodward. Forçados ao silêncio absoluto para evitar predadores com audição aguçada, a família enfrenta desafios extremos para permanecer viva.

A personagem de Regan, surda tanto na história quanto na vida real, é magistralmente interpretada por Millicent Simmonds, trazendo uma dimensão autêntica e essencial ao filme. O enredo ganha vida especialmente nas cenas focadas em Regan, onde a ausência de som se torna palpável, aumentando a tensão e a sensação de vulnerabilidade.

O filme começa com uma tela preta informando que estão no dia 89 após a chegada das criaturas. A sequência inicial, que mostra a desolação de um supermercado abandonado, é envolta em um silêncio profundo, interrompido apenas por pequenos ruídos que intensificam a sensação de perigo iminente. A família Abbott move-se com cautela, procurando suprimentos enquanto tenta manter-se invisível aos predadores. Mesmo com todas as precauções, um erro mínimo pode ser fatal. A constante necessidade de silêncio é uma obsessão que permeia toda a narrativa, com os personagens andando descalços e comunicando-se por sinais, uma prática já habitual para eles devido à surdez de Regan.

A paranoia de Lee em relação aos inimigos invisíveis é evidente, e sua vigilância constante faz com que se questione se ele não estaria exagerando. Contudo, a ameaça é real, e o cuidado extremo é justificado pelas circunstâncias. A família segue Lee, descalços e sempre atentos, como se estivessem em uma jornada bíblica em busca de segurança e esperança.

Com o passar do tempo, novos desafios surgem. Evelyn, grávida e prestes a dar à luz, enfrenta as incertezas e os perigos de criar um bebê em um mundo onde qualquer som pode atrair a morte. A luta pela sobrevivência é constante, e a pergunta sobre um possível retorno à normalidade persiste sem resposta. Lee continua a buscar incansavelmente por informações que possam dar-lhes uma vantagem sobre as criaturas, examinando artigos e estudos em busca de uma solução.

O tema de criaturas monstruosas que ameaçam a humanidade é recorrente no cinema desde os anos 1970. Filmes como “Duna” de 1984, dirigido por David Lynch, e sua reedição por Denis Villeneuve em 2021, abordam a fragilidade do domínio humano sobre a Terra. Krasinski oferece uma visão original dentro desse contexto, explorando a necessidade de silêncio e a união familiar como elementos cruciais para a sobrevivência. Sem recorrer a moralismos óbvios, o diretor usa sua experiência e habilidade para criar uma narrativa refinada e intelectualmente estimulante.

Filmes de terror são excelentes para especular sobre um futuro desconhecido, oferecendo um espaço para explorar soluções e estratégias para sobreviver em um mundo hostil. “Um Lugar Silencioso” faz exatamente isso, apresentando uma história onde os monstros são apenas uma parte de um cenário maior e mais complexo. Krasinski oferece ao público uma experiência aterrorizante e reflexiva, onde o verdadeiro terror reside na luta pela sobrevivência e na resiliência diante da adversidade.


Filme: Um Lugar Silencioso
Direção: John Krasinski
Ano: 2018
Gêneros: Terror/Ficção científica
Nota: 8/10