Um dos filmes mais divertidos da história do cinema volta ao catálogo da Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Um dos filmes mais divertidos da história do cinema volta ao catálogo da Netflix

Assistir a “Um Tira da Pesada”, quarenta anos depois da estreia, é como passar uma tarde de sábado num lugar mágico como Wonder World, o parque temático homólogo à Disneylândia onde se passa quase toda a terceira parte da tetralogia. Evidentemente, ninguém volta quatro décadas no tempo sem sentir o peso de suas próprias escolhas, sem começar a refletir se está de fato no seu melhor momento, como recomendam-nos que digamos os manuais de etiqueta e os tais coaches das redes sociais, e a viagem pode não ser assim tão prazerosa.

De minha parte, contudo, o filme de Martin Brest permanece o que sempre foi: entretenimento despretensioso, convicto e, o mais importante, benfeito, pensado para ser consumido imediatamente e descartado, embora uma ou outra passagem fique na cabeça por um período maior que o suportável, graças a “The Heat Is On” (1984), a pegajosa canção que Glenn Frey (1948-2016) compôs para acompanhar as investidas e as trapalhadas do mocinho de Eddie Murphy. O roteiro de Danilo Bach e Daniel Petrie Jr. aposta justamente no carisma de Murphy para segurar o público até o fim, a despeito da irregularidade do andamento mesmo do longa. E já na abertura tem-se uma prova disso.

A longa sequência que desemboca num caminhão carregado de maços de Lucky Strike, depois da empolgante apresentação da problemática Detroit durante os anos 1980, que continua com a proverbialperseguição de veículos pelas ruas da cidade, termina, claro, num enfaroso distrito policial, com Axel Foley, o detetive interpretado por Murphy, tendo de dar satisfações a seus chefes. Brest faz com que Foley balance numa corda fina de tensão, comicidade e um possível alívio romântico, até que vai entrando mais concentradamente no mote central, o assassinato de um velho (e suspeito) amigo do tira da pesada.

Esse lance pode passar batido, mas leva ao conflito mais importante da história, no qual Foley é desafiado a parar Victor Maitland, o gângster de Beverly Hills vivido por Steven Berkoff cuja galeria de arte serve de fachada para um milionário esquema de tráfico de cocaína. Lá trabalha Jenny Summers, com Lisa Eilbacher numa participação quase protocolar. Um dos problemas que mais salta aos olhos no primeiro filme da série é justamente esse, querer abraçar o mundo em menos de duas horas. À medida que os anos correm, todavia, Murphy (e o espectador) passam a vibrar no mesmo diapasão e tudo fica mais divertido.


Filme: Um Tira da Pesada
Direção: Martin Brest
Ano: 1984
Gêneros: Comédia/Ação
Nota: 7/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.