Nenhum filme de 2024 vai emocioná-lo tanto: a mais bela história de amor do ano acaba de chegar à Netflix Jung Jae-gu / Netflix

Nenhum filme de 2024 vai emocioná-lo tanto: a mais bela história de amor do ano acaba de chegar à Netflix

Andar pelas ruas de uma grande cidade, numa pacata noite de calor, pode ser um privilégio inalcançável quando a liberdade sorri apenas para os apaniguados dos donos do poder. O protagonista do filme de Kim Hee-jin sabe perfeitamente quem é, mas parece ter medo de que o ambiente nefasto o faça esquecer disso, e a partir da sensação muito particular desse homem angustiado, “Meu Nome É Loh Kiwan” ganha substância.

O diretor constrói sua história, adaptada de “I Met Loh Kiwan” (literalmente “eu conheci Loh Kiwan”, sem edição em português), romance da sul-coreana Cho Hae-jin publicado em 2011, dosando política e cenas nas quais o personagem central tenta expurgar fantasmas de sua velha vida no país natal em outra terra, onde, claro, enfrenta novos desafios e é testado de todas as formas.

Kim e Cho compõem um roteiro que, de caso pensado ou não, leva a reflexões acerca de uma tragédia que se perpetua pelo tempo sem nunca apontar para uma solução, e enquanto o público se desespera com a provável sorte do mocinho, o enredo flerta com possibilidades inauditas para seu tormento, que só arrefece depois de um recuo estratégico.

A Coreia sempre viveu sob tensão constante, cenário que se agravou muito a partir de 1950, quando da eclosão de uma sequência de conflitos armados ao longo dos quais os exércitos do Norte invadiram a porção meridional. A Guerra da Coreia só veio a cabo três anos depois, graças a um armistício. Tomando a história oficial por base, a nenhum dos dois foi conferida a vitória, mas ao se analisar o contexto das duas nações no mundo hoje, a hegemonia da Coreia do Sul sobre a irmã do norte é evidente.

O país dispõe de um governo democrático, cujo sistema econômico, sempre em visível crescimento, é responsável por garantir à população padrão de vida comparável ao de muitas sociedades europeias e mesmo de algumas cidades dos Estados Unidos, mas Loh Kiwan não arrisca. Ele se muda para a Bélgica, aonde chega com algumas cédulas numa carteira suja de sangue, lembrança da hora mais triste de sua lamentável jornada, quando Jeong Joo, a mãe morre atropelada e o cadáver é vendida a um hospital pelo irmão. Se no primeiro ato Lee Il-hwa e Song Joong-ki aparecem sempre juntos, dando à narrativa a aura de drama familiar que lhe cai tão bem. 

Adiante, “Meu Nome É Loh Kiwan” também incorpora elementos de romance maldito quando da chegada do personagem de Song à nova terra prometida. Depois de se submeter uma pouco auspiciosa entrevista junto ao serviço de imigração e se hospedar num albergue, a única terrível opção para jovens sem dinheiro que têm de ganhar a vida rápido, ele passa a dormir num banheiro público, que acaba sendo interditado. Feliz ou infelizmente, vai parar numa lavanderia onde adormece num chão alagado, e não desperta nem quando, sem muito cuidado, alguém lhe surrupia a carteira.

Seon Joo entra na história atabalhoadamente, mas no momento em que isso acontece, a burguesa marginalizada a que Lee Sang-hee dá vida conduz o longa para as subtramas de repulsa, paixão e, finalmente, amor pelas quais Loh Kiwan jamais esperaria. Até seu inferno tornar ao primeiro círculo.


Filme: Meu Nome É Loh Kiwan
Direção: Kim Hee-jin
Ano: 2024
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 8/10
Onde assistir: Netflix