Ganhador do Prêmio do Júri em Cannes, uma das maiores obras-primas do cinema europeu da última década está no Prime Video Divulgação / Magnolia Pictures

Ganhador do Prêmio do Júri em Cannes, uma das maiores obras-primas do cinema europeu da última década está no Prime Video

Ruben Östlund é um nome para manter sempre no radar. Provocativo, inteligente e original, seus filmes sempre dão o que falar. Não é à toa que ele já venceu duas vezes a Palma de Ouro em Cannes, com “The Square: A Arte da Discórdia”, de 2017, e “Triângulo da Tristeza”, de 2022. Com este último filme, ele foi indicado ao Oscar nas categorias de melhor roteiro original e melhor direção. Em “Força Maior”, que está no Prime Video, ele indaga de maneira genial o patriarcado e o papel do homem na sociedade e na família. O filme foi indicado ao Bafta e é uma das abordagens mais autênticas do tema, porque sua percepção lança à luz os prejuízos do  patriarcado na vida do próprio homem.

Descrito pelo New York Times como uma “comédia sombria”, não há nenhuma piada explícita na qual rimos em “Força Maior”. Os personagens não são caricatos, não são engraçados, não há um humor no estilo tradicional. No IMDb, o resumo do enredo é: “Uma família em férias nos Alpes franceses enfrenta uma avalanche devastadora”. Mas assim que a avalanche surge na tela, compreendemos que não é sobre ela que a descrição está falando. Mas da avalanche de problemas que surgem decorrentes dela.

A família formada por Tomas (Johannes Kuhnke) e Ebba (Lisa Loven Kongsli) e um casal de filhos crianças parece ideal quando suas férias em um resort de esqui na França começam. No entanto, as coisas rapidamente se transformam quando durante um almoço no restaurante do resort, localizado ao pé de uma encosta congelada, um barulho amedrontador surge do alto da montanha, trazendo consigo um desmoronamento de neve. Um aviso diz que se trata de uma avalanche controlada, mas quando a neve parece sair de controle, as pessoas se assustam. As camadas cada vez mais pesadas e espessas de neve continuam rolando montanha abaixo, deixando as pessoas aterrorizadas no restaurante, temendo serem tragados como formigas na imensidão.

Com uma fotografia panorâmica impactante, a cena captura o momento em que as pessoas ficam em choque esperando pelo pior. É quando Tomas salta de sua cadeira e corre para se salvar, deixando para trás a esposa e os filhos. Quando tudo acaba sem nenhum dano real, os demais clientes retomam suas refeições como se o susto tivesse sido supérfluo. Tomas retorna desconcertado para a mesa da família e percebe que a mulher e os filhos parecem irritados.

Mais tarde, Ebba relembra o ocorrido e descreve como o marido correu abandonando a família durante um perigo iminente. Tomas se defende dizendo que as coisas não ocorreram desta maneira. Ele se lembra do evento de outra forma. Mas o filme não deixa dúvidas de que a versão de Ebba é a verdadeira e de que Tomas realmente “falhou” em seu papel de homem que tem o dever de “proteger” a família. A discordância entre eles da situação se torna um peso maior a cada dia, já que Ebba não consegue esquecer que seu marido deixou a família à mercê de uma suposta “morte” para se salvar. Tomas também está cada vez mais irritado e envergonhado, porque Ebba não parece esquecer do assunto e torna a repetir a narrativa para os amigos e conhecidos.

Ao longo dos dias, tanto a relação de Ebba com Tomas, quanto a dele com seus próprios filhos vai se desgastando em torno da memória de “covardia” e “falha” de dever moral e social. A discussão proposta por Ruben Östlund é brilhante e extremamente aplicável na vida prática.


Filme: Força Maior
Direção: Ruben Östlund
Ano: 2014
Gênero: Comédia/Drama
Nota: 10