A Vida e Época de Michael K, de J. M. Coetzee

A Vida e Época de Michael K, de J. M. Coetzee

Nono (9º) livro lido em 2024: “A Vida e Época de Michael K”, do sul-africano J. M. Coetzee. Para mim, e apenas para mim, Coetzee é o maior escritor vivo; anteriormente, era Cormac McCarthy. “A Vida e Época de Michael K”, que inclusive lembra alguns livros de McCarthy, confirma esta afirmação.

“Que pena, numa época como esta, um homem ter de estar pronto a viver como bicho. Um homem que quer viver não pode viver numa casa com luzes nas janelas. Tem de viver num buraco e se esconder de dia. Um homem tem de viver de modo a não deixar sinal da sua vida. Foi a isso que se chegou.”

A Vida e Época de Michael K, de J. M. Coetzee (Companhia das Letras, 216 páginas)

O romance, que rendeu a Coetzee o Man Booker Prize, desvenda a trajetória de um homem que, em meio a uma guerra civil, decide levar sua mãe à fazenda onde ela nasceu, para que ela possa viver seus últimos dias. Transformado em andarilho e entre fugas e prisões, enfrenta campos de reabilitação e é progressivamente despojado dos elementos que o conectam à realidade, mergulhando em um processo instintivo de animalização, mas, ao mesmo tempo, entrando em um estado de esquecimento e plenitude espiritual que transcende o tempo cronológico convencional.

A narrativa de Coetzee é uma contestação ao absurdo, à banalidade e à brutalidade das guerras. É a epopeia de um homem que encontra refúgio e propósito no simples ato de semear abóboras. O gesto, aparentemente modesto, carrega um simbolismo poderoso de resistência e renovação, contrapondo-se à desolação da guerra com a promessa de vida e continuidade.

Sem dúvida, um dos mais belos livros que já li, lamentavelmente com um atraso de quatro décadas, visto que foi originalmente lançado em 1983. Um livro inesquecível. Coetzee é o maior.


Livro: A Vida e Época de Michael K
Autor: J. M. Coetzee
Tradução: José Rubens Siqueira
Páginas: 240 páginas
Editora: Companhia das Letras
Nota: 10/10