Um dos mais belos filmes de 2023 acaba de estrear na Netflix e vai tocar profundamente o seu coração Divulgação / Netflix

Um dos mais belos filmes de 2023 acaba de estrear na Netflix e vai tocar profundamente o seu coração

No coração de “Família”, filme do colombiano Rodrigo García, encontra-se a dissecção afiada das relações humanas, tingidas pela complexidade do amor e do dinheiro. García, trazendo consigo o legado literário do pai, Gabriel García Márquez, aborda com precisão as nuances da alma humana, sem cair no lugar-comum. O filme se desenrola como um estudo perspicaz sobre como os laços familiares se entrelaçam com questões materiais, um tema universal, mas aqui apresentado com uma riqueza singular.

O patriarca Leo, interpretado magistralmente por Daniel Giménez Cacho, serve de eixo para a narrativa. A performance de Cacho ilustra com habilidade a jornada de um homem que oscila entre a esperança e a melancolia, o amor altruísta e uma misantropia contida. A cena em que Leo, afogado em vinho, erra pela casa repleta de sombras, é uma metáfora poderosa da sua própria jornada emocional. García e a corroterista Bárbara Colio esculpem um roteiro que desvela uma possível separação iminente na vida de Leo, adicionando camadas à sua complexidade.

A trama se aprofunda ao explorar a venda do rancho de oliveiras, um local repleto de memórias e significados para a família. Aqui, García habilmente encadeia diálogos que são mais do que conversas: são revelações de emoções profundamente enraizadas, de amor e perda, de memórias e a inevitabilidade da mudança. A sombra das oliveiras torna-se um testemunho silencioso dos conflitos e das revelações íntimas que se desenrolam.

Ao longo do filme, vemos como Leo enfrenta a realidade de que seus filhos têm seus próprios caminhos a percorrer, desafios que ele não pode resolver. Esse reconhecimento desencadeia uma crise existencial em Leo, que é explorada com uma honestidade crua pelo diretor. A performance de Cacho é um ponto alto, refletindo as complexidades de um homem que carrega em si as neuroses não só pessoais, mas também culturais de sua geração.

O que faz de “Família” uma obra singular é a habilidade de García em capturar a essência da vida familiar — sua complexidade, idiossincrasias e a cultura única que define cada família. O filme funciona como um espelho, refletindo as muitas camadas da experiência humana, tornando-o uma obra que ressoa com uma verdade universal.

García não se limita a seguir os passos de seu ilustre pai; ele forja seu próprio caminho no mundo do cinema. Seu talento, evidente em trabalhos anteriores e em séries aclamadas, brilha de maneira especial em “Família”. Ao escolher o espanhol, sua língua materna, para este projeto, García cria uma conexão mais íntima e direta com a trama, elevando a autenticidade e a emoção do filme.

“Família” é, em essência, uma história de amor, perda e a inevitável passagem do tempo, contada com uma sensibilidade que toca o coração e aguça a mente. A decisão de vender o rancho familiar, um símbolo de memórias e de um passado compartilhado, coloca em perspectiva o inevitável avanço do tempo e a necessidade de seguir em frente. O filme consegue ser ao mesmo tempo universal em seu apelo e profundamente pessoal em seu impacto, uma façanha que poucos cineastas conseguem alcançar.


Filme: Família
Direção: Rodrigo García
Ano: 2023
Gênero: Drama
Nota: 9/10