Uma das mais belas histórias de amor do cinema, ganhador do Oscar com Daniel Day-Lewis está na Netflix Divulgação / Twentieth Century Fox

Uma das mais belas histórias de amor do cinema, ganhador do Oscar com Daniel Day-Lewis está na Netflix

Passadas três décadas, “O Último dos Moicanos” continua a ser um filme atual, controverso, instigante e algo repulsivo. Michael Mann volta mais meio século no curso do tempo e tira da versão lançada por George B. Seitz (1888-1944) em 1936 muitos dos elementos que fazem de seu trabalho a experiência antropológica mais próxima da realidade quanto a saber como transcorreram os primórdios da colonização europeia na América do Norte, assunto já esmiuçado com bastante método e frieza por Bruce Beresford em “Hábito Negro” (1991), no que respeita ao Canadá.

Pelo que se vê no épico de Mann, os Estados Unidos resistiram muito a se tornar a potência que são há pelo menos desde 1890, na esteira da Guerra Civil (1861-1865), quando, abafando conflitos étnicos referentes à escravização de negros africanos, uniu o sul, francamente favorável à manutenção do sistema escravagista, e o norte, já farto do opróbrio de ver a economia agrilhoada ao vexame da subjugação de seres humanos, tidos por inferiores apenas por não serem anglo-saxões. No caso dos povos originários pré-colombianos na América, ainda hoje resta uma névoa de dúvida quanto ao que de fato aconteceu com os dezoito milhões de indígenas que habitavam a região setentrional do continente, abreviados a cerca de um sexto num povo conhecido por evitar a miscigenação. 

Em 1757, as colônias americanas entram no terceiro ano de uma disputa entre Inglaterra e França pela posse dessas áreas. Três homens, os últimos de um povo à beira do extermínio, estão radicados na fronteira oeste do rio Hudson, não aderem a nenhum dos dois lados, preferindo concentrar esforços na resistência à dominação dos colonizadores, sofrendo as consequências de sua bravura e trazendo para muito mais perto de sua gente a ira do homem branco.

O diretor sustenta um plano panorâmico por algumas das colinas até então verdes do nordeste dos Estados Unidos, e mostra na sequência um deles correndo pela mata, perseguido por alguém. O roteiro de Mann, Christopher Crowe e Philip Dunne aproveita muitos dos detalhes expostos por John L. Balderston (1889-1954) e James Fenimore Cooper (1789-1851), em cujo romance homônimo publicado em 1826 as duas produções se baseiam, e aos poucos, Hawkeye, a figura encarnada por Daniel Day-Lewis, ganha quase todo o destaque, impulsionada, por óbvio, pelo envolvimento romântico com Cora Munro, a filha de um oficial britânico, vivida por Madeleine Stowe numa performance entre sedutora e virginal.

Mann toma muitas liberdades poéticas — que tornam a narrativa de Cooper muito mais estimulante e confere-lhe uma merecida lembrança como um sucessor à altura do talento de Seitz. O caso entre Hawkeye e Cora é superestimado no enredo, sem dúvida; contudo,  a parceria entre Day-Lewis e Stowe, uma das mais felizes de Hollywood, absolve qualquer exagero numa trama doloridamente melancólica, cujos protagonistas ninguém muito bem que fim tiveram.


Filme: O Último dos Moicanos
Direção: Michael Mann
Ano: 1992
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 9/10