Esqueça as preocupações e mergulhe de cabeça no romance mágico e encantador, com Brooke Shields, da Netflix Divulgação / Netflix

Esqueça as preocupações e mergulhe de cabeça no romance mágico e encantador, com Brooke Shields, da Netflix

Não pode haver uma época do ano mais propícia a recomeços do que o Natal e as incansáveis luzes coloridas que adornam ruas e casas e desarmam o espírito das pessoas, em meio ao amor e ao ódio que as festas de fim de ano continuam a inspirar. Não por acaso, esse é um tempo em que, a despeito do verdadeiro caos que se instala em lojas sempre cheias, da troca de presentes — trocados por outros muitas vezes, com o coração já frio —, das valsas dançadas em meio a falsas esperanças, nossas convicções balançam, deparamo-nos com a enorme solidão que nos espreita ao longo de doze meses e da vida toda, e nos assalta a urgência de que é fundamental renunciar a velhas ideias e espanar o pó dos sentimentos que não mais nos servem, para que alcancemos, afinal, o que tanto desejamos, como faz a protagonista de “Um Castelo para o Natal”.

Aqui, Mary Lambert transpõe a experiência como diretora de dezenas de clipes de artistas cultuados no mundo inteiro há muitos dezembros, como Madonna e Mötley Crüe, e oferece ao público um trabalho pródigo em ritmo e vigor, malgrado o assunto nem seja lá tão estimulante assim. A magia de seu filme está justamente na irreverência com que Lambert lida com questões que, em maior ou menor proporção, escolhem o Natal para ressurgir com todas as forças. E quem puder que as combata.

Uma bem-sucedida escritora de novelas água-com-açúcar sente que sua vida envereda por um caminho um tanto amargo depois de publicar uma história que afronta o que seus leitores — e, em especial, suas leitoras — julgam conveniente para o destino de Emma Gale, a heroína de doze romances, acompanhada de perto ao longo dos últimos vinte anos. Na verdade, a trajetória de Emma e Sophie Brown, sua criadora, estão tragicomicamente parecidas: as duas têm de lidar com separações abruptas e bastante malresolvidas, mas no caso da mulher da ficção, ela pode se consolar com o fato de que o donjuan fenece pouco depois, o que, por esdrúxulo que seja, o público não digere bem.

No talk show (sempre eles) apresentado por Drew Barrymore, numa participação autorreferente, ela tenta explicar, como se alguém lhe fosse dar crédito, que é tudo uma coincidência, que ela e sua mocinha têm vidas autônomas uma da outra, mas a emenda sai pior que o soneto, ela se descontrola e a única saída, antes de dançar o tango argentino, é realizar um sonho há muito abafado: ir morar num castelo de verdade, no caso, Dun Dunbar, uma fortaleza que serviu de moradia a nobres no litoral sudeste da Escócia durante o século 19.

A diretora encontra meios de burlar o monotonia do roteiro de Ally Carter e Kim Beyer-Johnson, fazendo circular pelo antigo feudo inglês na Idade Média (476-1453) uma onda de calor não muito fácil de se achar por aquelas bandas. Brown é reconhecida e paparicada por boa parte dos moradores de Dunbar, exceto por Myles, o dono do castelo, ainda detentor do embolorado título de duque que se espraia para seu temperamento demasiado formal e autoritário. Ninguém se surpreende com o fato de Sophie e o vilanesco personagem de Cary Elwes se estranharem de imediato, mas, com habilidade, Lambert vai acrescentando elementos de folhetim que estão a um triz de atropelar a lógica, mas que acabam se diluindo no caldo grosso da trama central, com direito a uma bulha entre a família de Myles e Sophie, o que não deixa de vir a calhar em enredos assim.


Filme: Um Castelo para o Natal
Direção: Mary Lambert
Ano: 2021
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 8/10