Na Netflix, nova comédia romântica vai te fazer esquecer os problemas e deixar seu final de semana mais leve Divulgação / Netflix

Na Netflix, nova comédia romântica vai te fazer esquecer os problemas e deixar seu final de semana mais leve

À medida que se aproxima o Natal, vão pipocando as séries e filmes que tentam retratar a tal magia que paira sobre as criaturas durante essa época do ano, um mês pouco mais, pouco menos, de correria, projetos adiados às vezes por uma vida que acham de querer se realizar em quatro semanas, gastos com pequenas reformas sem qualquer planejamento, comércio cheio, calor, muito calor.

A exemplo de 99,9% das histórias sobre o assunto, “Última Chamada para Istambul” também registra que o hemisfério norte não sofre com a subida dos termômetros, porém todas as outras confusões vêm até com muito mais energia, e muito antes do que acontece no lado de baixo do Equador com o Dia de Ação de Graças, um feriado instituído para que as pessoas disponham de tempo para, como no Natal, fingir que amam-se umas às outras, não esquecendo de, como diz o nome da celebração, agradecer por seus imensos SUVs que um dia hão de produzir o derradeiro átomo de dióxido de carbono que vai matar-nos esturricados e sem fôlego, suas casas suntuosas, observadas com lupa pelos bancos e suas hipotecas, suas famílias plenas de ressentimentos cristalizados, frios como neve em corações de pedra, tudo regado às deliciosas iguarias que pode-se comer a qualquer tempo, desde que se tenha dinheiro — porque, afinal, não é porque os dias são de Boas Festas que todo mundo tem boa mesa.

Sem querer, o filme do turco Gönenç Uyanık é um manifesto contra o farisaísmo das datas comemorativas, quando a felicidade parece um carnê que deve ser quitado o mais cedo possível, para que não se comprometa o outro ano de perigosas autoilusões que está por vir.

Tudo em “Última Chamada para Istambul” é muito bem-embalado. O roteiro de Nuran Evren Sit abusa das sequências em que planos abertos captam lindas imagens de Nova York, de dia, de noite, ensolarada, prestes a chover, uma megalópole onde sapatos vagabundos se desviam de Manhattan para becos suspeitos e fazem qualquer um acreditar que é o rei de todos os outeiros, como Sinatra declama. Sim, esta é uma produção turca ambientada na Grande Maçã, talvez para não perder a chance de compor o infame trocadilho que possibilita blaguezinhas tolas sobre o nome da terra dos protagonistas e a ave mais querida do planeta nesses instantes postremos entre um ano e outro — sobretudo no forno, guarnecida de farofa e cerejas. É por aí que Uyanık começa a fazer rodar seu longa, com uma mulher e um homem estranhos um ao outro, jovens, belos, endinheirados… e comprometidos. O espectador não tem nenhuma dúvida quanto ao que vai acontecer, mas o diretor encontra no texto de Sit as brechas pelas quais engendra um ou outro lance um pouco menos óbvio, a começar de uma mala, recolhida equivocadamente por outro passageiro no Aeroporto Internacional John F. Kennedy.

A bagagem pertence a Serin, a personagem de Beren Saat, que não dá a impressão de estar passando por nenhuma tensão conjugal. O mesmo se pode dizer acerca de Mehmet; no entanto, homens nunca são muito confiáveis nesse departamento, e Kivanç Tatlitug empresta-lhe uma boa dose do bom e velho encanto cafajeste, e embora sem muito em comum além de terem partilhado a mesma aeronave e sofrido alguns inconvenientes ao pisar em solo americano, os dois começam a criar pretextos para estar juntos.

Nunca fica suficientemente claro por que Serin e Mehmet têm de estar em Nova York sem o marido e a esposa, e a despeito de qualquer julgamento moral, essa é uma das grandes deficiências do trabalho de Uyanık, que parece ter se esforçado para replicar o sucesso de um “Amor sem Escalas” (2009), de Jason Reitman, por exemplo, sem a intrepidez de Reitman e Sheldon Turner ao apontar a hipocrisia e o cinismo de adultos que se recusam a crescer. Mas no Natal tudo se perdoa.


Filme: Última Chamada para Istambul
Direção: Gönenç Uyanık
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 7/10