O filme adorável e cativante que acaba de chegar na Netflix e vai iluminar seu dia Divulgação / SF Studios

O filme adorável e cativante que acaba de chegar na Netflix e vai iluminar seu dia

As dores do amadurecimento podem incomodar para muito além de certa fase da vida. Essa é uma das conclusões a que se chega ao fim dos 103 minutos de “Forever”, metáfora perspicaz sobre as reações intempestivas, apaixonadas, coléricas de duas garotas frente ao desafio de ser alguém, de deixar sua marca no mundo, de sentir o gosto da vitória. O filme de Anders Hazelius é também uma história de amizade, por óbvio, mas esse argumento perde força à medida que Mila e Kia, as protagonistas vividas por Flutra Cela e Judith Sigfridsson descobrem as tantas diferenças que compõem sua natureza mesma, processo orgânico em que ninguém é mocinha ou vilã, só dona de seu próprio caminho, que trilha caindo e levantando-se, conforme mandam as a regras de um jogo que vão conhecendo a duras penas.

Duas garotas disputam uma bola num campinho deserto do subúrbio de Uddevalla, noroeste da Suécia. Mila escreve seu nome na chuteira de Kia e vice-versa, e as duas juntas parecem mesmo que serão para sempre, indestrutíveis, eternas. Mila, a personagem de Cela, volta para casa de bicicleta, seguida por Kia, de  Sigfridsson, e vai ficando cada vez mais difícil distinguir uma da outra, como se fossem almas gêmeas que, felizmente, puderam se encontrar a tempo neste plano. A fotografia de Erik Persson destaca o céu plúmbeo da Escandinávia ao passo que o roteiro de Jessika Jankert dirime a possibilidade de um romance entre as personagens centrais, que aos poucos vão florescendo também para o interesse amoroso com rapazes. As performances de Cela e Sigfridsson equiparam-se quase sempre; contudo, a participação de Mila vai crescendo até que a personagem ocupe os espaços que pareciam insólitos, o que se vê na sequência na qual apresenta um trabalho de escola diante dos colegas e fala sobre o pai, uma figura ausente, mas de quem se orgulha, por ele já ter sido jogador profissional, no Kosovo. 

O enredo fica um tanto repetitivo ao escolher fixar-se apenas na rotina de Mila e Kia, nessa ordem, malgrado reserve o terceiro ato para uma reviravolta cativante, mas algo monótona, quando Lollo Wallin, a nova treinadora vivida por Agnes Lindström Bolmgren, admitida pouco antes, não consegue levar a equipe das moças aos resultados que elas, sobretudo elas, esperavam. O time fica nas semifinais, por um gol que Mila não consegue marcar, mas a artilheira, ainda que combalida, tem algum alento nos braços da mãe, Besa, de Eleftheria Gerofoka, que lhe diz pelo olhar que a vida pode ser mais que uma partida de futebol.


Filme: Forever
Direção: Anders Hazelius
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Esporte/Coming-of-age
Nota: 8/10