Suspense homoerótico que acaba de estrear na Netflix vai te prender até a última cena Paramount+

Suspense homoerótico que acaba de estrear na Netflix vai te prender até a última cena

Misturar o sentimento amoroso — ou qualquer coisa com que se possa confundi-lo — com dinheiro, poder, gente inescrupulosa que faz de tudo para subir e, naturalmente, um crime bárbaro que, anos depois, explica um outro, enigmático e cheio de pontas soltas, parece a fórmula certeira para um suspense que não dá folga ao espectador, perdido em suas reviravoltas. Apaixonar-se é uma decisão racional só até o instante em que se consegue manter a salvo a lógica, inimiga figadal da emoção mais animalesca a conseguir tomar o coração do homem.

“Onda de Calor” parece gostar de ir de um extremo a seu oposto, tentando manter quem assiste numa roda mais e mais fechada de obsessão, melancolia, paranoia. Ernie Barbarash descobre, no entanto, um jeito de distinguir seu filme do grosso do que se tem nessas histórias: um fenômeno meteorológico que abala os nervos de um país, mas em especial os de uma cidade de porte médio nos arredores de Seattle, metáfora que nem seria tão necessária assim.

O problema no roteiro de Chris Sivertson é justamente o fogo. Na primeira sequência, uma garota espalha um líquido inflamável e risca um fósforo. Quando criança, Claire Valens foi coberta de amor, mas ao crescer sua vida desceu aos nove círculos do inferno, sem a poesia de Dante. Kat Graham incorpora uma anti-heroína carismática, obrigada a lidar com demônios de outros tempos com uma frequência insuportável a qualquer outra alma menos férrea.

Um incêndio matou sua família aos quinze anos; o texto de Sivertson investe num extenso flashback onde esclarece em que circunstâncias passaram-se as duas tragédias, a primeira, em que fora vítima e a posterior, na pele de uma algoz bestial. Depois de ter levado à tela vários filmes de Natal, Barbarash viu em “Onda de Calor” a oportunidade perfeita para falar da realidade paralela de amantes sórdidos, perdidos cada qual num momento específico de sua paixão. A onda de calor que matou 33 pessoas nos Estados Unidos — e que parece ter acabado de se deslocar para algum lugar entre a linha do Equador e o trópico de Capricórnio — é o argumento em torno do qual se move o eixo da narrativa. Depois da fase turbulenta que todos enfrentamos, a despeito de fantasmas de um passado que nunca passa, aos poucos, Claire se refaz.

Mora num apartamento descolado, mas sem condicionador de ar, e foi contratada há pouco pela megacorporação de Scott Crane, vivido por Sebastian Roché. Por um motivo quase óbvio, Claire vai parar no apartamento alugado por Eve, papel de Merritt Patterson, uma cobertura com piscina. O diretor dá uma volta de cem minutos para imbricar as personagens de Graham, Patterson e Roché, sem fazer muita questão de ligar os pontos — ao menos até o derradeiro segmento, quando Claire Valens prova que é mesmo fogo. 


Filme: Onda de Calor
Direção: Ernie Barbarash
Ano: 2022
Gênero: Suspense
Nota: 7/10