Digna de Oscar: a joia argentina aclamada pela crítica, mas que você ainda não descobriu na Netflix Divulgação / Matanza Cine

Digna de Oscar: a joia argentina aclamada pela crítica, mas que você ainda não descobriu na Netflix

“Leonera” é um filme argentino de 2008, coescrito por Alejandro Fadel, Martín Mauregui e Santiago Mitre e dirigido por Pablo Trapero. O enredo começa com um crime misterioso, que nem mesmo a protagonista, Julia (Martina Gusmán), sabe exatamente como aconteceu. A primeira cena é sangrenta e caótica. Há corpos no chão e Julia, que está no apartamento onde tudo ocorreu, fala com a polícia ao telefone. Não sabemos o que houve. Julia também parece perdida. Ela se nega a abrir a porta quando os agentes de segurança chegam e diz que teve um apagão e não se lembra de nada. Mais tarde, somos informados de que além dela há outro sobrevivente, Ramiro (Rodrigo Santoro). O morto é Nahuel, ex-companheiro de Julia, com quem Ramiro supostamente tinha um caso. O crime, aparentemente, começou com um desentendimento entre os três.

Julia está grávida e é detida até que o crime seja esclarecido. Tempos depois, ela é condenada pelo homicídio de Nahuel. Na cadeia, é protegida por Marta (Laura Garcîa), outra mãe prisioneira e de quem se torna namorada, mais por conveniência e proteção que por sentimento, mas a cumplicidade também ajuda a combater a solidão dentro da cadeia. E é lá que Julia dá à luz ao seu filho, Tomás, com quem poderá ficar até que faça quatro anos de idade. Depois, a criança será entregue para a mãe de Júlia, Sofía (Elli Medeiros).

O longa-metragem foi gravado por Trapero em prisões reais de cidades nos arredores de Buenos Aires, porque, na época, não conseguiu autorização para filmar na capital. Diversos figurantes eram detentos destes locais. Segundo o cineasta, a intenção era levar o espectador para dentro dessa realidade, além de cumprir com a função social da arte, de denunciar a precariedade desses ambientes. Por pior que pareçam, ainda são melhores que as prisões convencionais, porque essas são consideradas seguras e adequadas para crianças.

Martina Gusmán, a protagonista, é esposa, na vida real, de Trapero. Foi a gravidez do primeiro filho do casal que o inspirou a dirigir o filme. “Leonera”, título da produção, se refere exatamente ao amor feroz de uma mãe pelo filho, que faz tudo para sobreviver com sua cria aos ambientes e situações mais hostis. Trapero conta que a relação entre Martina e o filho o fez se sentir como um espectador, por que o laço entre a mãe e o bebê são incomparáveis.

O filme nunca deixa claro o que realmente aconteceu no dia em que Nahuel foi morto. Tampouco é sobre culpa ou o caráter da protagonista, mas sobre o vínculo de Julia com Tomás e sobre criar um bebê dentro de uma prisão. “Leonera” expõe esse recorte de mulheres e crianças reais, que existem precariamente sob a tutela do Estado.

Rodrigo Santoro surge em algumas pequenas, mas marcantes, participações especiais, em que sua atuação dá ainda mais brilho para a história e revela que Julia e Ramiro também possuem algum tipo de relacionamento íntimo. O filme foi aclamado pela crítica em Cannes e a principal submissão da Argentina para o Oscar de 2009. Infelizmente, não chegou às indicações definitivas.


Filme: Leonera
Direção: Pablo Trapero
Ano: 2008
Gênero: Drama
Nota: 9/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.