Você vai perder o fôlego: live-action da Netflix é um dos filmes mais assistidos do mundo na atualidade Masako Iwasaki / Netflix

Você vai perder o fôlego: live-action da Netflix é um dos filmes mais assistidos do mundo na atualidade

A fotografia contrastada, colorida e cheia de neons dá um ar divertido e moderno para “100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi”, filme de estreia de Yûsuke Ishida como diretor. Inspirado na série de mangás de Haro Aso (o mesmo de “Alice in Borderland”) e ilustradas por Korato Takata, o enredo foi adaptado para as telas por Tatsuro Mishima. A história segue Akira Tendo (Eiji Akaso), um jovem de 24 anos que luta para sobreviver ao apocalipse zumbi.

Com uma pegada road movie e de comédia romântica a la “Zumbilândia”, o filme mostra, na verdade, como a experiência mortal se tornou a melhor coisa que poderia ter acontecido para Akira. É que antes sua vida era entediante e sem propósito. Explorado na empresa em que trabalhava, ele se sentia sobrecarregado e infeliz. Ser um sobrevivente em uma realidade tão assustadora o torna, finalmente, especial. Afinal, agora ele pode assumir o controle da própria vida. Na companhia do atrapalhado amigo Kencho (Shuntarô Yanagi), Akira viaja em um trailer, de cidade em cidade, vivendo aventuras incríveis e que jamais experimentaria em circunstâncias normais.

Ele traça uma lista de coisas que deseja fazer antes de morrer e o apocalipse o dá a oportunidade de comer em restaurantes caros de graça, andar de montanha-russa, voar de asa-delta. Isso sem falar na emoção de perambular por locais perigosos e infestados de zumbis e sobreviver. No caminho, ele conhece a bela e introspectiva Shizuka Kenzo (Shiraishi Mai), por quem desenvolve uma quedinha.

Mas seus caminhos se cruzam com o de seu ex-chefe, Gonzô Kosugi (Kazuki Kitamura), que incrivelmente conseguiu encontrar uma maneira de continuar explorando sobreviventes e mortos-vivos mesmo durante o apocalipse, os fazendo trabalhar incansavelmente para que ele continue a obter vantagens. Com um discurso de coach de sucessos, ele consegue manipular Akira para que fique do seu lado e o ajude a liderar seus subalternos.

De sua lista que inclui encontrar a mulher de seus sonhos, aprender a falar inglês e viajar por todo o país, o único item escrito por Akira que permanece não riscado é o “ser um herói e salvar todo mundo”. Quando Shizuka lê sua lista, relembra Akira de seu propósito e desperta nele a coragem que precisa para finalmente dizer não para seu chefe.

Com alguns efeitos bobinhos de CGI, e uma maquiagem bem ao estilo filme b, a produção alcança sua estética gore e grotesca. A cena do tubarão-zumbi é um tanto quanto teatral e a gente parece, até mesmo, perceber as texturas artificiais do cenário. “100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi” não se leva à sério e não pode ser levado à sério por nenhum espectador. É um filme que pretende fugir das regras e apenas divertir.

A intenção de Aso, ao escrever o mangá, era contar uma história de zumbi pouco convencional e que fugisse do que o mercado já está saturado. Mesmo assim, o desafio se mostrou quase impossível. “100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi” não é tão original quanto pretende ser, mas também não precisa. Há quem adore conservar tradições e encontrar previsibilidade. Até aqui, tudo certo com isso. Mas há um certo exagero nas atuações e nos rumos que a história toma que mostram que Ishida perde um pouco o controle de seu filme.


Filme: 100 Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi
Direção: Yûsuke Ishida
Ano: 2023
Gênero: Terror / Comédia
Nota: 7/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.