Escape da realidade por 96 minutos com Nicolas Cage e Idris Elba na Netflix Jasin Boland / Columbia Pictures

Escape da realidade por 96 minutos com Nicolas Cage e Idris Elba na Netflix

Na criação cinematográfica, cada diretor tem sua maneira particular de trazer à tona metáforas acerca do fim da vida, do apocalipse, de Deus, do mal e de rituais que conectam a humanidade a ambos. Em “Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança”, Brian Taylor e Mark Neveldine demonstram maestria em utilizar o poder da síntese, mas também não economizam no uso de uma infinidade de imagens — admito que a maioria delas manipuladas digitalmente sob a supervisão de Nick Allder. Eles conseguem abordar tais tópicos complexos sem deixar de lado a ação.

Com grande conhecimento no campo cinematográfico, Taylor e Neveldine conduzem seu trabalho como em “Adrenalina” (2006), onde o determinado e rápido Jason Statham mantém-se vivo com um turbilhão de aventuras. Da mesma forma, Nicolas Cage, desafiando a idade, lidera uma equipe bem entrosada, reproduzindo com precisão o som e a fúria da própria vida.

Desde o começo, Moreau, o monge motociclista vivido por Idris Elba, une forças com o personagem de Cage em cenas carregadas de perseguições, tiroteios, fugas e morte. O pacto de Johnny Blaze, o motoqueiro de cabeça flamejante, com o senhor do submundo, se torna explícito quando o roteiro de David S. Goyer, Seth Hoffman e Scott M. Gimple traz à tona Danny Ketch, um garoto que paga um preço exorbitante pelos pecados dos pais, a cigana Nadya, encarnada por Violante Placido, e Roarke, o próprio Mefistófeles, a entidade que assombra todos os seres e, em um momento de fraqueza, seduz e rouba suas almas.

Goyer, Hoffman e Gimple fornecem vasto material para crítica ao insistirem na história da cigana que não apenas auxilia o demônio, mas também permite-se ser seduzida por ele. Mostram-se aparentemente alheios à possível reação adversa ao deixarem o público com uma péssima impressão sobre a personagem de Placido, que claramente não se arrependeu e ainda envolve Danny em negócios obscuríssimos. Contornando essa pilha de preconceitos desnecessários e dispensáveis, “Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança” ruma para um terceiro ato onde os diretores abraçam por completo a natureza metafísica da trama, evidenciada quando Christopher Lambert surge como Methodius, o frade descalço e tatuado com a missão de proteger Danny, o personagem que Fergus Riordan brilha em interpretar.

O desfecho, com nuances estéticas perigosamente semelhantes aos filmes da saga “Mad Max “, sinaliza a possível redenção de Danny. A referência ao Uzak Gökten, o portão do inferno na Turquia — para onde a história se transporta literalmente —, instiga o desejo de mais, que a Marvel aproveitou para lançar o terceiro filme da série, no início de 2023.


Filme: Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança
Diretores: Brian Taylor e Mark Neveldine
Ano de lançamento: 2011
Gêneros: Ação/Fantasia
Classificação: 8/10