As crônicas de amor esculpidas por Jane Austen (1775-1817) continuam ressoando com vigor no século 21. Seu primeiro romance publicado, “Razão e Sensibilidade”, lançado em 1811, introduziu uma trilogia na qual Austen esmiúça a complexidade do amor frente às exigências vitais da existência. A profundidade deste tema é ainda mais explorada em “Orgulho e Preconceito” e “Persuasão”, onde Austen delineia o percurso de uma família outrora influente agora à beira do abismo financeiro e explora a vida amorosa da mulher na maturidade, respectivamente.
Em 1995, o diretor taiwanês Ang Lee trouxe à vida “Razão e Sensibilidade” na tela grande. A trama se desenvolve após a morte do patriarca Dashwood, interpretado por Tom Wilkinson, onde sua ex-esposa (Gemma Jones) e suas três filhas são deixadas praticamente sem recursos. A forma singular com que Elinor, Marianne e Margaret lidam com a situação é retratada de forma magistral pelas atuações de Emma Thompson, Kate Winslet e Emilie François.
A introdução dos personagens masculinos na trama, Edward Ferrars (Hugh Grant), John Willoughby (Greg Wise) e o coronel Christopher Brandon (Alan Rickman), leva ao desenrolar das reflexões de Austen sobre o amor. Cada um desempenha seu papel nesta dinâmica, sem que nenhum deles ofereça uma solução definitiva para a questão do que é o amor.
Quando Austen começou a escrever “Razão e Sensibilidade”, ela ainda não havia vivenciado plenamente a idade adulta. No entanto, até a publicação do livro, ela havia maturado o suficiente para se considerar uma verdadeira romancista. A obra retrata de maneira realista a vulnerabilidade das mulheres na sociedade de sua época, frequentemente deixadas à mercê das decisões dos homens.
Sob a direção competente de Ang Lee, a essência do romance de Austen ganha vida, fazendo do filme um retrato autêntico e instigante da realidade feminina de seu tempo. Lee, cuja carreira lhe garantiu um lugar indiscutível entre os diretores mais influentes, realça cada palavra do texto original com sua habilidade técnica, criando um trabalho que prende a atenção do espectador cena após cena.
Elinor e Marianne, as protagonistas femininas, apresentam visões contrastantes de como lidar com a sensibilidade e a razão. Elinor, a mais velha, é a personificação da “razão”, reprimindo suas emoções em favor da decência e discrição. Marianne, por outro lado, é a encarnação da “sensibilidade”, apaixonada, impulsiva e sem medo de expressar abertamente suas emoções. Através delas, Austen explora as vantagens e desvantagens de cada abordagem ao enfrentar a vida.
No filme, as atuações notáveis de Emma Thompson e Kate Winslet acentuam ainda mais o contraste entre Elinor e Marianne. As complexidades do amor e do casamento, conforme exploradas na obra original, são magnificamente retratadas na adaptação cinematográfica. A tensão romântica entre Elinor e Edward Ferrars, a paixão de Marianne pelo carismático Willoughby e a subsequente desilusão, e o gentil coronel Brandon esperando pacientemente por Marianne, são apenas alguns dos vários relacionamentos intrincados que dão vida ao filme.
Por fim, o filme destaca o tema do amor diante das limitações sociais e financeiras. A riqueza e a estabilidade são vistas como critérios importantes para o casamento, mas Austen, e o filme, argumentam que o amor, o respeito e a compreensão mútua devem ser a base de um casamento.
Portanto, a adaptação cinematográfica de “Razão e Sensibilidade” de 1995 por Ang Lee é uma representação fiel do trabalho original de Jane Austen. Destaca habilmente as nuances da trama e dos personagens, e realça os temas centrais do romance. É uma obra indispensável para qualquer amante da literatura de Austen ou apreciador de filmes de época. Com uma direção sensível e performances memoráveis, o filme traz uma nova vitalidade à obra de Austen, provando que as questões por ela levantadas continuam relevantes e tocantes mesmo depois de mais de dois séculos.
Filme: Razão e Sensibilidade
Direção: Ang Lee
Ano: 1996
Gênero: Romance
Nota: 9/10