Indicado ao Oscar, filme filosófico com George Clooney é um dos mais caros da história da Netflix e você não assistiu Philippe Antonello / Netflix

Indicado ao Oscar, filme filosófico com George Clooney é um dos mais caros da história da Netflix e você não assistiu

Eu simplesmente amo filmes de ficção-científica e como eles nos fazem ressignificar nossa existência, refletir sobre o futuro do planeta e nos fazer sentir apenas poeira de estrelas (parafraseando Carl Sagan) em um universo tão extraordinário, surpreendente e imenso. Eu adoro o sentimento apocalíptico da imprevisibilidade e caos. O mundo pode acabar em um segundo, então, tudo o que nos resta é viver cada momento como se o fim da humanidade esgueirasse à porta. E todos os séculos de estudos, ciências e tecnologia poderiam se voltar contra nós ou simplesmente acabar junto com a gente. E isso nos faria cair de volta em nossa insignificância. Os humanos são soberbos demais.

“O Céu da Meia-Noite” é um filme coproduzido, dirigido e protagonizado por George Clooney. Ele interpreta Augustine, um cientista isolado em uma estação de pesquisas espaciais no Ártico. Uma catástrofe global está em andamento e os humanos sobreviventes estão sendo evacuados da superfície da Terra. Depois de alguns dias de isolamento, Augustine descobre que uma criança foi deixada para trás. Naquela localidade remota e solitária, eles encontram companhia um no outro. Ao longo desta convivência, Augustine tem flashbacks de seu passado, do amor que negligenciou pela carreira e da filha que abandonou para viver pela ciência.

Enquanto isso, uma nave espacial com um grupo de pesquisadores que estava em uma missão em busca de um lugar habitável precisa retornar para o planeta, mas Augustine deve impedí-los, justamente porque não há mais para o quê retornar. Entre os membros da tripulação está Sully (Felicity Jones), uma astronauta grávida, que consegue se comunicar com Augustine. A nave perde o contato com a central de comando, sai da rota rumo à Terra e fica à deriva no espaço. O grupo de profissionais experientes começa a se desesperar quando não detectam problemas mecânicos e não sabe o que está acontecendo ou o que fazer. Todos estão com saudades de casa e querem, desesperadamente, rever suas famílias.

O filme é baseado no livro homônimo de Lily Brooks-Dalton e foi adaptado para as telas por Mark L. Smith, o mesmo roteirista do vencedor do Oscar “O Regresso”, com Leonardo DiCaprio. Por uma ironia do destino, as gravações foram atravessadas pela pandemia de coronavírus, que deixou a população mundial isolada e solitária por vários meses de suas vidas. O filme acabou representando muito bem aquele período da humanidade e tocando na ferida que foi perder a companhia (alguns temporariamente e outros definitivamente) das pessoas que mais amávamos.

“O Céu da Meia-Noite” deveria ter sido lançado nos cinemas, mas por conta da Covid-19 chegou primeiro na Netflix. O papel de Augustine também marca o retorno de Clooney nos cinemas, que havia feito por último o “Jogo do Dinheiro”, de 2016. Após quatro anos sem atuar, ele sentiu que seria perfeito para viver o personagem.

Assim como grande parte dos filmes de ficção-científica, “O Céu da Meia-Noite” é silencioso. Tem poucos diálogos. Eles buscam reflexões muito mais por meio de imagens que de palavras. E deixam as conclusões para seus espectadores. Afinal, a garotinha que Augustine via era real? Ou uma representação da filha que abandonou e que agora imagina para se sentir menos solitário? Toda a humanidade foi extinta? Sully está grávida do capitão da nave, Adewole (David Oyelowo). Seriam eles uma espécie de Adão e Eva do futuro, que dariam continuidade para a humanidade do recém-explorado planeta K-23? O filme não soluciona essas questões, mas deixa nossa imaginação respondê-las por nós.


Filme: O Céu da Meia-Noite
Direção: George Clooney
Ano: 2020
Gênero: Ficção-Científica  / Drama
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.