Coisas que eu não sei fazer

Coisas que eu não sei fazer

Outro dia eu saí para dar uma caminhada. Estava andando em passos semirrápidos, o que para mim já é legal, quando passou por mim um cara andando de bicicleta sem as mãos. Taí um troço que me deixa puto. Para que andar sem as mãos se tem um guidão ali para você segurar? A resposta é óbvia: só para me sacanear. Só porque isso é uma coisa que eu nunca consegui fazer. Andei de bicicleta pra cacete quando era adolescente, subia e descia ladeira, andava quilômetros todo dia, mas nunca consegui andar sem as mãos, uma frustração de infância.

Aí fiquei pensando em outras coisas que não sei fazer, além de andar de bicicleta sem as mãos.

— Assobiar — Não sei. Tentei a vida toda, pedi para um monte de gente para me ensinar, mas nunca consegui emitir nenhum som. E tenho uma puta inveja daqueles caras que colocam um dedo na boca e dão um apitão que acorda até defunto.

— Surfar — Não sei. Na verdade, nunca tentei, preferi ficar em casa falando mal dos surfistas, dizendo que eram burros, enquanto eles se davam bem com a mulherada.

— Andar de skate — Nunca subi em cima de um skate. Por conta disso, não me tornei um daqueles sessentões que no fim de semana vão para a orla andar de skate para tirar onda de garotões.

— Jogar tênis — Tentei jogar tênis uma vez, cheguei a fazer uma aula, mas o professor ficava jogando a bolinha e eu furava. As bolas que conseguia acertar, eu zunia na vizinhança. Achei um saco, ia demorar demais para virar o Roger Federer. Desisti.

— Jogar golfe — Não passei do golfinho que é coisa de criança. Golfe, aquele esporte de milionário, eu nunca tentei. Acho o campo de golfe um desperdício de espaço. Quando vejo aquele gramadão verdão fico logo pensando em quantos campos de futebol não dava para fazer naquele lugar.

— Jogar truco — Nem sei nem do que se trata. Só sei que é um jogo de cartas que paulista gosta, que as pessoas ficam gritando frase estranhas quando jogam e que parece que vale roubar. Será que é um jogo para deputados?

— Dar estrela — Cambalhota eu sei dar, ou sabia, nunca mais tentei. Estrela eu nunca soube. Acho maneiro, mas não pretendo mais tentar aprender. Até porque, com o meu peso e a minha idade, eu seria certamente uma estrela cadente.

— Cozinhar — Não aprendi. Só conheço uma receita, a de pizza: pegar um telefone, discar o número de uma pizzaria e pedir a gosto.