Hollywood tem uma fonte inesgotável de inspiração: a história. E a história se faz ano após ano, dia após dia. A vida vive em constante transformação, nos surpreendendo e nos maravilhando. Recém-saído das salas de cinema para o streaming, “Air: A História Por Trás do Logo”, é um filme produzido pela dupla Ben Affleck e Matt Damon. O longa-metragem que narra os fatos por trás do contrato revolucionário entre a Nike e Michael Jordan tem ares de Aaron Sorkin, com diálogos cadenciados e cheios de emoção. Mas essa influência já esteve presente no filme de Affleck e Damon, “Gênio Indomável”.
Com roteiro escrito pelo estreante Alex Convery e direção de Affleck, o filme conta com Damon no papel principal, o de Sonny Vaccaro, um figurão do basquete que revelou nomes como Kobe Bryant, Dwight Howard e LeBron James. Embora sua história com Michael Jordan e a própria Nike não tenha terminado bem em 1994, cerca de 10 anos antes, quando ele mediou o contrato entre a marca esportiva e o maior jogador da NBA de todos os tempos, as coisas eram bem diferentes.
“Air: A História Por Trás do Logo” se passa em 1984, quando Vaccaro trabalhava para o departamento de marketing da Nike. Ele fazia parte da equipe que deveria escolher os próximos jogadores para fechar contratos da linha de basquete na empresa. Naquela época, a Nike, que hoje é a maior marca esportiva do mercado, valendo mais de 50 bilhões de dólares, passava por uma queda de popularidade. Ainda alemã nos anos 1980, a Adidas, do falecido fundador Adolf Dassler, era a etiqueta mais famosa entre artistas e atletas, porque seus designs passavam um ar mais descolado de jovialidade e estilo.
Os maiores contratos com jogadores de basquete naquela época estavam com a Adidas e a Converse. Com um orçamento de apenas 250 mil dólares, a Nike não priorizava esse setor e não tinha intenção de contratar atletas caros. Mas tudo mudou quando Vaccaro insistiu que a empresa deveria investir em Michael Jordan. Embora o atleta ainda fosse um rapaz de 21 anos em ascensão no basquete, a promessa de seu talento já o tornava caro demais para o orçamento da Nike, que pretendia contratar ao menos três jogadores para assinar a linha. Vaccaro convenceu o dono da empresa, Philip Knigth (Affleck), a oferecer todo o valor disponível em caixa apenas para Jordan.
Mas havia vários riscos na proposta de Vaccaro. O primeiro era que Jordan tinha acabado de chegar. Ele sequer era o jogador principal do Chicago Bulls, naquela época. Ele poderia muito bem ser uma promessa que nunca viesse a se cumprir no esporte. Outro problema é que Jordan não tinha interesse algum na Nike. Fã de Adidas, a primeira opção do atleta era a marca alemã. A segunda era a Converse, dependendo do contrato, porque eles já patrocinavam os maiores jogadores daqueles tempos e Michael Jordan queria estar entre os melhores. Também havia David Falk (Chris Messina), empresário do jogador, que não se dava bem com Vaccaro e não queria que seu cliente assinasse com a Nike. Além de tudo isso, se por um acaso o contrato entre a empresa e Jordan desse certo, era necessário criar produtos bons e interessantes o bastante para vender. Havia o risco de a linha fracassar no mercado e falir a marca.
O final da história a gente já sabe. Afinal, a Nike Air, linha de Jordan na Nike, já dura 39 anos. Mas o filme conta os percalços para alcançar esse contrato histórico. Mas, por que ele foi histórico e revolucionário? Primeiro, porque sua duração era de apenas cinco anos, mas o sucesso de vendas da linha de Jordan foi tão absurdo, que até hoje o contrato rende cerca de 4 bilhões anuais para a Nike.
Além disso, ele trouxe algumas transformações para o mundo esportivo. A NBA tinha uma regra sobre os tênis dos jogadores. Eles deveriam ser 51% brancos. O primeiro Air Jordan veio quase completamente colorido com as cores do Chicago Bulls, o preto e o vermelho, e a Nike se disponibilizou a pagar as multas, por jogo, de Michael Jordan. Hoje não existe mais restrição de cores para os tênis dos atletas da NBA.
Ainda, o contrato de Jordan com a Nike fez história, porque até então ninguém havia sido contratado por um valor tão alto e nenhum jogador ganhava comissão pelas vendas. Esse último termo foi uma exigência da mãe de Jordan, Deloris (Viola Davis), que até hoje auxilia o filho a gerenciar sua carreira.
Tanto Sonny Vaccaro e Michael Jordan foram consultados durante a construção do roteiro e a produção do filme para atestar a veracidade da história e eles afirmaram, após o lançamento, que o longa-metragem é extremamente preciso ao retratar os fatos da época.
“Air: A História Por Trás do Logo” é mais uma história de triunfo do capitalismo. Mesmo assim, é um filme bem escrito e maravilhosamente atuado, e que vale o entretenimento.
Filme: Air: A História Por Trás do Logo
Direção: Ben Affleck
Ano: 2023
Gênero: Drama
Nota: 10/10