A partir do dia 29 de abril de 1983, o filme “Fome de Viver” passou a fascinar plateias mundo afora com uma visão única e sombria do mito vampírico. Em vez de castelos europeus forrados de teias de aranhas, as cenas iniciais mostravam a pista escura de uma casa noturna na qual os flashes do estroboscópio revelavam góticos dançando diante de uma apresentação da banda Bauhaus, cujo vocalista não por acaso entoava os versos da icônica canção que fundou o gothic rock ao anunciar uma troca de paradigmas: “Bela Lugosi’s Dead”.
O filme dirigido por Tony Scott logo ganhou ares de cult movie com sua abordagem ímpar. O elenco de peso incluía Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon em uma trama na qual vampiros se veem diante da impossibilidade de transmitir sua imortalidade àqueles que contaminam, uma vez que estes eventualmente são acometidos por um processo de envelhecimento galopante que põe um brusco fim à sua longevidade sobre-humana.
Com pitadas de uma elegância neogótica, atualizações científicas do fenômeno vampírico, metáforas dolorosas sobre a fugacidade do amor, cenas encharcadas de sangue e uma dose sem concessões de erotismo bissexual, o filme arrebanhou legiões de fãs geração após geração, e agora, prestes a completar 40 anos, promete ser reapresentado ao mundo em uma refilmagem capitaneada por Angela Robinson (das séries “The L World” e “True Blood”).
O que muitos ainda não sabem, entretanto, é que esse universo de sedução, morte e imortalidade surgiu primeiro na literatura, mais especificamente nas páginas de um romance do autor Whitley Strieber, um escritor estadunidense conhecido por seus livros de horror e ficção científica. Seu romance The Hunger continua sendo um dos seus trabalhos mais populares, chegando a ter outras adaptações e continuações ao longo dos anos.
Em 1997, foi lançada a série de mesmo nome (cuja primeira temporada foi lançada em DVD no Brasil), com episódios nem sempre muito relacionados ao romance (há adaptações de Robert Aickman e Théophile Gautier entre eles, por exemplo). Sua primeira temporada foi apresentada por Terence Stamp, enquanto a segunda teve David Bowie como anfitrião.
Depois da primeira edição do romance em 1981, a tradução nacional de “Fome de Viver” foi reeditada em 1987, mas desde então permanece fora de catálogo. Às vésperas da comemoração de 40 anos do filme, a Editora Clepsidra pretende suprir essa lacuna, e abriu uma campanha de financiamento coletivo para viabilizar uma edição de colecionador desse marco da literatura vampírica.
A nova versão em português ficou a cargo do tradutor, ficcionista e pesquisador Oscar Nestarez, especialista em literatura de horror, que também o prefacia. Já a apresentação do livro ficou a cargo do professor, ator e palestrante Guilherme Terreri, por meio de sua persona Rita von Hunty, que transformou o canal Tempero Drag em um dos maiores fenômenos do país no YouTube, com sua abordagem radical de temas sociológicos, literários e políticos.
Caso a arrecadação da campanha exceda o mínimo necessário para sua concretização, os leitores poderão contar com metas estendidas, dentre as quais se destacam um ensaio do pesquisador e crítico Carlos Primati, um dos maiores especialistas em cinema de horror não apenas do Brasil, mas do mundo, além de um artigo do pesquisador e autor Andrio J. R. dos Santos, que vem se dedicando a destrinchar o queer gothic na literatura.
A campanha receberá apoios até o dia 14 de maio, e o livro está previsto para ser entregue em outubro de 2023. Além do livro, há outras recompensas exclusivas.