Suspense asfixiante da Netflix é um dos filmes mais agonizantes da história recente do cinema Divulgação / Netflix

Suspense asfixiante da Netflix é um dos filmes mais agonizantes da história recente do cinema

Quando Franco ascendeu na Espanha, mais ou menos na mesma época que Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália, uma onda de repressão e atraso econômico se cimentou no país. No entanto, ao contrário dos dois líderes, Franco não morreu em 1945 e nem saiu do poder. A Espanha ficou sob seu controle por quase quatro décadas. E o regime franquista é tema de “A Trincheira Infinita”, thriller dramático espanhol, de 2019, do trio Aitor Arregi, Jon Garaño e Jose Mari Goenaga.

No enredo, acompanhamos a rotina do casal Higino Blanco (Antonio de la Torre) e Rosa (Belén Cuesta). Recém-casados, ele se vê obrigado a se esconder em sua própria casa, quando o regime político passa a perseguir seus opositores. Higino, que trabalhava como vereador e alfaiate, é preso. Após uma fuga, ele consegue voltar para sua residência, onde precisa viver escondido dentro de uma parede. O filme começa em 1936, no começo do governo de Franco.

Quando em 1939 a Guerra Civil Espanhola chega ao fim, Higino acredita que finalmente poderá sair de seu esconderijo e ver a luz do sol. No entanto, Rosa descobre que há uma recompensa pela cabeça de seu marido e que, se ele for capturado, será morto como dezenas de outros conhecidos, que se opunham ao governo.

Ao longo do filme, acompanhamos a rotina arrastada e agonizante do casal, que vive sempre sob risco iminente e temendo serem descobertos. Rosa chega a ser torturada, por acreditarem que ela tem notícias do marido, mas sua lealdade o mantém a salvo. Os sofrimentos não param por aí. Anos depois, Higino se muda para a casa do pai, que morre um após um tempo. A residência fica de herança para Rosa, que também vai morar no imóvel e assume como costureira no lugar do sogro.

Um dia, ela é atacada sexualmente por um de seus clientes, Rodrigo, um guarda-civil. Higino o mata e eles escondem o corpo. Rosa fica grávida, mas o casal não sabe ao certo a paternidade do filho, afinal, ela foi violentada. Rosa se esconde na casa da irmã para que os vizinhos não vejam sua barriga crescer e só retorna com o bebê nos braços. Ao longo dos anos, ela e o menino escondem o pai, que continua sendo procurado pelo regime.

Com o fim da Segunda Guerra e a derrota de outros governos nazifascistas, Higino acredita que, finalmente, Franco será derrubado e que ele poderá ver a luz do dia, mas as coisas não acontecem como ele esperava. O general permanece no poder por mais algumas décadas.

Conforme o tempo passa e Higino e Rosa precisam viver confinados, a convivência se desgasta, assim como as forças para continuar sustentando a mentira de sua existência secreta. O espectador se sente como o próprio protagonista, cada vez mais sufocado em um espaço que parece diminuir com o passar dos anos. Higino ainda precisa dividir seu minúsculo esconderijo com os fantasmas que o assombram.

“A Trincheira Infinita” nos leva ao limite do esforço pela sobrevivência e da sanidade. É um filme denso e desgastante, que deixa o espectador ansioso e incomodado. Ao mesmo tempo que conta uma das histórias mais importantes da política no século passado. Mas como se não fosse terrível o bastante, o longa-metragem é inspirado em fatos reais.


Filme: A Trincheira Infinita
Direção: A Trincheira Infinita
Ano: 2019
Gênero: Drama/Suspense/História
Nota: 9/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.