Um dos mais esperados do ano, novo filme da Netflix é uma viagem nostálgica à infância Dan Smith / Netflix

Um dos mais esperados do ano, novo filme da Netflix é uma viagem nostálgica à infância

Crianças possuem uma imaginação incrível, e Matilda (Alisha Weir), do remake da história de Roald Dahl, não é diferente de qualquer criança nesse quesito. Mas ela é, sem dúvidas, especial. Com uma inteligência acima da média, Matilda usa suas fantasias, sua esperteza e travessuras para escapar de uma realidade cruel de violência doméstica e bullying. Em “Matilda: O Musical”, do diretor Matthew Warchus, o filme é embalado de canções do início ao fim, que retratam quase sempre o mundo do ponto de vista das crianças e usam jogos de palavras e trava-línguas de forma inteligente e criativa, como se fossem brincadeiras. Embora Matilda seja a protagonista, ela não é a única voz ativa no filme. Vários secundários surgem para contar sua perspectiva da infância e nos dizer mais sobre eles mesmos, seus sonhos e medos.

Se Matilda vivesse no mundo fora das telas, diriam que ela tem uma personalidade desafiadora. Ao contrário das outras crianças de sua escola, ela não está disposta a aceitar o status quo e vai promover uma verdadeira revolução para demolir o poder da diretora Trunchbull (Emma Thompson), uma ex-vencedora olímpica de arremesso de martelo, durona e intragável e que odeia crianças. Sua aparência é de uma mulher enorme, larga, com fios de barba em seu queixo quadrado e um sorriso cruel. Thompson está quase irreconhecível neste papel. Há bullying na escola de Matilda e quem o pratica é a própria diretora, que vigia por meio de câmeras de segurança os alunos a todo momento, como em uma prisão, os chama de vermes e os castiga das formas mais violentas e grotescas possível. Não demora para que a menina logo se torne uma heroína entre os alunos ao ser a primeira a dizer “não” para Trunchbull.

Há, também, a senhorita Honey (Lashana Lynch), uma professora adorável, protetora e que logo reconhece o potencial de Matilda. Quando ela está sozinha em sua sala de aula com os alunos, a fotografia de Tat Radcliffe se ilumina, ganha uma tonalidade mais clara e colorida. Nos demais momentos na escola, a fotografia é escura, fria e assustadora. Matilda é quase como Harry Potter, mas ao invés de viver embaixo da escada, ela vive em um sótão e é tratada com desprezo pelos pais, interpretados pelos atores Stephen Graham e Andrea Riseborouhg, que no momento do parto se negaram a acreditar que estavam prestes a ter um bebê. 

No decorrer do filme, Matilda tem flashes de uma história, e a conta para a senhorita Phelps (Sindhu Vee) — dona de uma espécie de livraria itinerante, sobre uma acrobata e um escapologista que se apaixonam e sonham em ter um filho ou filha. A cada ano que seu desejo não se realiza, eles traçam desafios mais complexos e difíceis de serem cumpridos nas arenas do circo. Até que após muito tempo, eles anunciam que irão fazer o desafio mais perigoso do mundo, que inclui o escapologista abrir o cadeado de uma corrente que o prende por todo seu corpo e sair de uma gaiola para salvar sua amada, que usa um capacete de dinamites, enquanto salta em uma piscina cheia de tubarões e estacas. Mas o casal de artistas descobre que estão, finalmente, esperando uma filha e tentam desistir da apresentação, mas são obrigados a cumprir devido a um contrato. Eles chegam a realizar o desafio. A acrobata dá à luz à menina, mas mesmo assim as coisas não terminam bem na história criada por Matilda.

Além de sua bravura e de sua mente fértil, ela ainda descobre que tem poderes telecinéticos e, apenas com essas habilidades ela vai conseguir vencer a maldade de Trunchbull. O que no filme deixa claro que crianças comuns, sem os superpoderes de Matilda, acabam sendo submetidas às violências e punições mais descabidas dos adultos, em um mundo que sem dúvidas as despreza, sem nenhum poder de defesa ou subversão. Talvez o próprio superpoder de Matilda seja uma fantasia, um escapismo de sua dura realidade. O longa-metragem abusa de paletas coloridas e usa cenários que parecem brinquedos, como a casa de Matilda. Já a casa da professora Honey é um chalé simplório de conto de fadas no meio do bosque, enquanto o colégio se assemelha a uma prisão, com pinturas descascadas, mofos, pouca iluminação e pátio enlameado.

“Matilda: O Musical” é uma adorável adaptação mais recente da famosa história, um filme cheio de talentos na tela de encher os olhos com suas belas atuações, uma estética caprichada e que cumpre com duas horas de puro entretenimento, muitas aventuras, música e diversão.


Filme: Matilda: O Musical
Direção: Matthew Warchus
Ano: 2022
Gênero: Musical/Comédia/Drama
Nota: 8/10