Em 2009, eu tinha 21 anos de idade e fazia faculdade de fisioterapia. Eu havia conseguido um estágio em uma associação e tinha o objetivo de me especializar na área neurológica. Até que um filme mudou tudo. Era um dia convencional, fui ao cinema com a minha irmã assistir a um lançamento com Russell Crowe. “Intrigas de Estado” é um daqueles de thrillers de jornalismo que te prendem do início ao fim. Com um roteiro inteligente, que te obriga a montar peças de quebra-cabeça no cérebro enquanto assiste.
Russell Crowe interpreta Cal McCaffrey, um experiente repórter investigativo do “Washington Post” levado a apurar as circunstâncias do assassinato de uma assessora parlamentar em meio a uma CPI. As investigações no Congresso são contra uma grande corporação bilionária, chamada PointCorp, que privatizou a inteligência americana e planejou, dentre outras coisas, ofensivas no Iraque. Revelações ao longo do dia apontam que a mulher morta era amante do deputado Stephen Collins (Ben Affleck), provocando uma polvorosa midiática, já que ele era casado, conservador e, acima de tudo, um nome cotado para disputar as eleições presidenciais.
Ao lado de Cal nas apurações, está a nova repórter de on-line do jornal, Della (Rachel McAdams). Uma jovem inexperiente, mas curiosa e dinâmica que segue, sem baixar a cabeça, as direções de seu mentor. Horas após a primeira morte, um ciclista é encontrado morto em um beco. Ele também era testemunha do caso da PointCorp.
Enquanto Cal e Della desvendam o furo de suas carreiras, o filme nos faz confrontar uma dura realidade, especialmente para os profissionais do jornalismo, que é a transição e iminente fim do impresso. Cal e Della são realidades que se descolam. É o encontro do velho e do novo, do masculino e do feminino. Da tela e do papel. Neste ponto, “Intrigas de Estado” tem um tom nostálgico de despedida das velhas edições vendidas em bancas de jornais. Dos furos sabidos apenas na manhã seguinte. A repórter do on-line, embora seja por muitas vezes subestimada por Cal, que a chama de “blogueira”, é competente, obstinada e o futuro da profissão.
Enquanto nos envolve em um thriller surpreendente, que por vezes nos prega peças, “Intrigas de Estado” também contempla um momento de transição tecnológica. Ainda nos deixa completamente admirados pela arte do jornalismo investigativo, que me convenceu a desistir de fisioterapia e transferir de curso.
E vale lembrar que, embora Kevin McDonald, o diretor, não tenha um nome muito conhecido no Brasil, ele é vencedor de uma estatueta do Oscar pelo documentário “One Day in September” e tem em seu rico currículo, grandes produções, como “O Último Rei da Escócia”, “Minha Nova Vida” e o extraordinário “O Mauritano”.
Filme: Intrigas de Estado
Direção: Kevin McDonald
Ano: 2009
Gênero: Thriller investigativo
Nota: 10/10