“Palm Springs” é o primeiro longa-metragem do diretor Max Barbakow, lançado em 2020, em plena pandemia de coronavírus. Um “feel good movie”, cujo maior interesse é entreter, fazer o espectador se sentir bem, fazê-lo rir de piadas malucas demais ou, algumas vezes, obscuras e pouco ortodoxas.
“Palm Springs” está longe de ser um filme bobo. Em uma camada mais superficial, pode até parecer uma produção de sessão da tarde, mas é uma das mais agradáveis surpresas do catálogo do Amazon Prime Video.
Inspirado no filme do dia da marmota, “O Feitiço no Tempo”, com o Bill Murray e a Andie MacDowell, do início dos anos 1990, “Palm Springs” é uma versão millenial do clássico da comédia hollywoodiana e faz muito sentido para o ano em que foi lançado e para nossa geração. É um filme sobre o estafo, a sobrecarga e o saco cheio de tudo, o chamado burnout. E, ao mesmo tempo, expressa o surto mental generalizado de 2020. Nossa exaustão em relação a pandemia, a rotina e o isolamento.
A comédia fala sobre acordar todos os dias no mesmo dia, o que me fez pensar muito sobre aquele ano e meio de isolamento social por conta da Covid-19. Sobre quanto tempo passamos presos no fatídico março de 2020. Na virada para 2022, quando as coisas finalmente retornaram ao normal, a sensação era de ter pulado dentro de um buraco negro e saído no futuro.
O protagonista Nyles (Andy Samberg) está preso em um looping temporal há tanto tempo que já nem se lembra de sua vida antes de chegar aonde está ou há quanto tempo está ali. O dia que se repete é o do casamento de uma amiga de sua namorada. Para não surtar com as repetições, ele sempre tenta fazer algo diferente e divertido. Nyles conhece todas as pessoas da festa, discursa sem nem conhecer os noivos, beija desconhecidos e promove esquetes no meio da cerimônia, porque sabe que no dia seguinte tudo volta à estaca zero.
Até que um dia, a irmã da noiva, Sarah (Cristin Milioti), também entra nesse loop junto com Nyles. A forma como isso acontece é revelada no filme, mas não pretendo dar spoilers. E é no momento em que eles se unem para encarar esse desafio científico, que Samberg e Milioti mostram sua genialidade para atuar em comédias. Apesar da camada externa boba do filme, a história traz dois personagens que expressam bem toda a complexidade e, ao mesmo tempo, a futilidade da geração millenial, com todos os seus problemas, traumas, ambições e um humor bem provocativo.
Nyles está tão de saco cheio de voltar no tempo, que já tentou se matar diversas vezes. Os protagonistas pessoas feridas pelos relacionamentos e que só conseguem se envolver com outras pessoas se for de forma superficial, sem entregar os sentimentos ou se permitir ser vulnerável. E no meio de toda a negatividade exalada por eles, o filme consegue criar uma comédia incrível.
Paralelo à história de Nyles e Sarah, Roy (J.K Simmons) é personagem misterioso que também fica preso na maldição do tempo. Suas aparições são sempre inesperadas e, no decorrer do filme, há poucas explicações sobre sua origem, o que confere um toque de suspense à produção.
“Palm Springs” é uma comédia de humor estranho e irreverente, com personagens desajustados e incrivelmente reais.
Filme: Palm Springs
Direção: Max Barbakow
Ano: 2020
Gênero: Comédia
Nota: 10/10