Há 20 anos distante dos sets de filmagem, o lendário cineasta Adrian Lyne faz seu retorno no thriller sensual “Águas Profundas”, que está disponível no Amazon Prime Video. Baseado no romance de 1957, de Patricia Highsmith, o filme teve roteiro adaptado para as telas por Sam Levinson, que está no seu ápice profissional à frente da bem-sucedida série da HBO, “Euphoria”. Além de Sam, Zach Helm, que tem algumas comédias bobas no currículo coescreveu a produção estrelada por Ben Affleck e Ana de Armas.
Mas antes de começar a falar de “Águas Profundas”, quero situar o leitor sobre quem é Adrian Lyne. Ele é um cineasta britânico indicado ao Oscar e que já dirigiu filmes icônicos entre 1980 a 2002, como “9½ Semanas de Amor”, “Atração Fatal”, “Proposta Indecente”, “Lolita” e “Infidelidade”. Seus filmes são um marco no cinema e sua falta de produtividade nas últimas décadas deixou uma vacância no subgênero thriller sensual. Seu retorno aos trabalhos era extremamente aguardado.
Mas aos 81 anos de idade, Lyne mostra, em “Águas Profundas”, que está enferrujado. O cineasta que já teve seu estilo de filmar elogiado e copiado por Stanley Kubrick, já não está mais em sua melhor performance. E Sam Levinson, cujo nome também promove expectativas, igualmente deixa a desejar com uma construção insípida da história. Mas talvez o mais grave seja a edição final do filme.
Acredite ou não, “Águas Profundas” foi produzido pela Disney, um dos raríssimos filmes adultos do estúdio e que tratou logo de se desvincular do título, lançando-o no Hulu dentro dos Estados Unidos e no Prime Video para o resto do mundo, justamente por conta das cenas quentes demais.
No enredo, Vic Van Allen (Ben Affleck) é um homem que ficou milionário após criar um drone de guerra e se aposentou cedo. Casado com a bela e sensual Melinda (Ana de Armas), ele não tem realmente muito o que fazer durante o dia, a não ser cuidar da filha do casal e observar o comportamento de sua esposa.
Os dois concordaram em abrir o casamento, afinal Vic faria qualquer coisa para mantê-la por perto, já que é obcecado por Melinda. Mas a jovem esposa tem um espírito selvagem e indomável. Ela gosta de se embebedar em festas, chamar atenção e se relacionar com belos rapazes. Um deles, Malcolm McRae, desapareceu misteriosamente. Quando em uma crise de ciúmes Vic diz a um rapaz com quem Melinda está dançando em uma festa que ele matou o homem desaparecido, a piada de mau-gosto logo se espalha pela cidade.
Um novo vizinho, Don Wilson (Tracy Letts) fica intrigado com a forma como Vic enriqueceu e com a tal piada do assassinato e coloca um detetive na cola dele. Ele está realmente disposto a desmascarar nosso protagonista e provar para a cidade que ele é um assassino de verdade.
Mas a pessoa que mais conhece Vic é Melinda. E, se ele é mesmo um psicopata ou sociopata, ela também é, porque tudo não passa de um jogo frio de sedução, obsessão e morte entre eles. Melinda gosta de provocá-lo com seus amantes e se nega a fazer sexo com Vic. Mas quando ele dança com outra mulher na festa, isso a deixa excitada. Mesmo sabendo que seu marido pode estar matando seus amantes, Melinda atrai os jovens rapazes como uma viúva-negra, armando sua emboscada. No fundo, ela se diverte com o jogo.
Mas as pontas não ficam bem presas e o expectador nunca entende, de fato, o porquê de o casal ter chegado a esse ponto. Melinda é incoerente. Uma hora, age quase que como se manipulasse as reações extremas de Vic. Em outra, como se fosse uma princesa refém no alto de uma torre, incapaz de escapar de seu algoz.
Mas, apesar de faltar profundidade nessas “Águas Profundas”, o filme não é uma perda de tempo, porque entretém. É o tipo de passatempo certo para aqueles momentos em que o espectador só está em busca de um filme bom o bastante para instigá-lo e provocar algumas reações, como surpresa, susto, raiva ou, até mesmo, riso.
Título: Águas Profundas (Deep Water)
Direção: Adrian Lyne
Ano: 2022
Gênero: Thriller/ Suspense
Nota: 7/10