Vinil de quê?

Vinil de quê?

Ele se parece com uma loja de CDs, dessas de bairro dos anos 90. Eu sei, vocês devem estar se perguntando “como é possível uma pessoa se parecer com uma loja de CDs?”, e não qualquer loja, é dessas de bairro, com a entrada entre uma lanchonete e uma barbearia, cheias de resquícios do marketing dos anos 1970 e 80. Se reparar bem, logos da Coca-Cola estão por todos os lados. Pois ele se parece! Apesar de, claramente, ter nascido nos anos 80, sua aparência não me engana. Incontestavelmente, uma loja de CDs dos anos 90.

Logo na vitrine, é possível ver cores, bem típico da década. Eu fiquei com o olhar perdido entre o pôster do Barão Vermelho, Nirvana e, quase a perder de vista, Cindy Lauper, AC/DC e Pato Fu?! Essa é nova! Foi assim que dei alguns passos adentro, na ingênua tentativa de ver o que se escondia entre os CDs e aquela prateleira única de vinis. “Alguém ainda ouve vinil?”

Então, aquele som ambiente, o fone meio capenga, acessível para que qualquer cliente possa ouvir o que está disponível, fizeram-me ficar. Peguei um CD do Pearl Jam e fui descobrir quem era esse tal Eddie Vedder, que parecia estar em todos os lugares desde o início da década. “Jeremy” me levou e tirou de um local de desconforto e “Black” merecia um vídeo…

Deparei-me com bandas de que nunca ouvi falar, como New Order, e, assim, fui separando alguns CDs, em minhas mãos. Assumo que Green Day veio sem querer, Oasis foi pela boa aparência dos integrantes e Foo Fighters ainda não me convenceu.

Chorei um pouquinho ouvindo Cássia Eller e dei boas gargalhadas com Mamonas. Indico uma volta na sessão “nacionais”.

É outono, quase inverno, o clima é propício para que eu permaneça aqui, entre os sons que ele tem a me oferecer. Será que me servem alguma bebida?

“Todas aquelas músicas, preciso levá-las comigo, claro!” Depeche Mode, Led Zeppelin, Queen…

Nesse momento, eu ouço tudo que quero. O lugar é convidativo e posso ficar ali por horas, entre um CD do Plebe Rude e uma tal banda R.E.M. E não vá pensando que esse é o momento em que lhe direi que é hora de partir ou que o lugar, simplesmente, se tornou insuportável. Dentro do horário comercial, toda música pode acontecer…

Quando o rock e o pop já não são mais pros meus ouvidos, meus dedos já estão percorrendo os vinis, e ali, ahhh, ali, naquela pequena prateleira, existem mais músicas no lado A e no lado B que os CDs conseguem carregar.

Passo os dedos pelo plástico dos vinis, que sai de sua capa, sinto a textura e foco no som que faz. Isso me relaxa e descansa um pouco meus ouvidos para próxima rodada de músicas.
Eu poderia fazer isso a vida toda…

Ele se parece com uma loja de CDs, dessas de bairro dos anos 90. Quando eu menos espero, ele me apresenta uma banda nova, uma música…

Minhas mãos já estão cheias de CDs que nem sei se posso pagar, meu olhar está preso em alguns vinis e sequer tenho uma vitrola, existe uma melodia tocando em meus pensamentos e nem sei de onde veio…

Espero que, ao chegar 18h, a loja feche e me esqueça aqui dentro, onde todos os sons do mundo podem ser apreciados.

“Aquele é um disco do Pink Floyd?”