Discutir modernismo é muito melhor que falar de negacionismo e terraplanismo

Discutir modernismo é muito melhor que falar de negacionismo e terraplanismo

O país continua atolado na Idade Média, mas vamos passar o ano inteiro falando do Modernismo, o que é bom. A Semana de Arte Moderna de 1922 é muitas coisas. Metade acha que aquilo tudo não passou de um convescote da elite paulistana, que precisava se afirmar cultural e politicamente. Outra metade pensa que a semana já nasceu ultrapassada ao propor ideias que, embora revolucionárias no Brasil, já eram reacionárias na Europa. E há ainda uma terceira metade que, além de não entender nada de fração, conclui que os modernistas foram a vanguarda possível numa país provinciano e parnasiano, que usa o rebuscamento da linguagem como ferramenta de exclusão.

Esteja você em qualquer um desses grupos, fique de olho na nova edição de “Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro” (José Olympio), do crítico e ensaísta Gilberto Mendonça Teles. Os principais movimentos de vanguarda do século 20 estão mapeados no livro, que vai do Futurismo ao Concretismo. Gilberto Mendonça Teles também traduz os manifestos de cada um desses movimentos, que são a parte mais divertida da obra.

Cada “carta de intenção” revela as inquietações artísticas e políticas de uma época e, à sua maneira, também contam a história do século 20.  Afinal, admirando ou rejeitando 1922, uma coisa é certa: é melhor discutir Modernismo do que perder tempo com Terraplanismo e Negacionismo.

Já no streaming, a dica é o documentário “Django e Django” sobre a obra do italiano Sergio Corbucci. Os diretores Quentin Tarantino e Ruggero Deodato dissecam os filmes desse cineasta que é a quintessência do Western Spaghetti — muito mais do que Sergio Leone, que é épico, operístico, e supera o próprio gênero.

Além de ter criado o “Django” original, um fenômeno de bilheteria em 1966, Corbucci dirigiu mais de 60 produções, entre comédias e westerns. Violento e sangrento nas telas, mas amante da “Dolce Vita” fora delas, esse italiano de Roma fez filmes que desconstruíam e ao mesmo tempo revitalizaram o western americano.

“Django e Django” fala de um tempo no qual o cinema era uma arte realmente diversificada e inclusiva, em vez de produzida automaticamente numa linha de montagem da tola e ensolarada Califórnia. Ironicamente, o documentário está disponível apenas num serviço de streaming transnacional, a Netflix.

Enfim, a hipocrisia.

E, para terminar, quadrinhos. A Panini acaba de lançar um encadernado de capa dura do “Esquadrão Supremo”, escrito por Mark Gruenwald nos anos 80. Espécie de “Liga da Justiça” da Marvel, o Esquadrão foi o primeiro grupo de super-heróis que decidiu intervir na política e promover justiça social. Naturalmente, o resultado é catastrófico e os justiceiros se transformam num bando de super-fascistas. Essa HQ de 1985 antecede outras obras do mesmo gênero, como “Watchmen”, de Alan Moore, e “Authority”, de Warren Ellis.

Semana que vem tem mais.