5 filmes novos e imperdíveis que acabaram de chegar à Netflix

5 filmes novos e imperdíveis que acabaram de chegar à Netflix

A cultura, a política e mesmo os padrões civilizatórios mudaram completamente nos últimos 20 anos. Era o que pensava o filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), autor de “Amor Líquido” (2004), leitura obrigatória quanto a conhecer o que nos trouxe até a pós-contemporaneidade de adultos patologicamente imaturos e incapazes de manter relações saudáveis (e duradouras) com quem quer que seja, tenham a preferência que tiverem, comportamento que, da vida íntima, logo extravasa também à esfera profissional. A propensão a evitar e se evadir de compromissos de quaisquer naturezas foi desenvolvendo no homem, particularmente do final do século 20 até aqui, uma outra concepção de mundo. Cada vez mais ávido por se sentir parte de um todo maior — ainda que não faça a mínima ideia sobre como se constituiria esse grupo, que papel teria nele e se seria a ele incorporado de maneira orgânica, fluida, ou se teria de ir se moldando, se adaptando, se mutilando a fim de caber num espaço muitas vezes limitado demais, já ocupado por indivíduos que não lhe dizem nada e que, por conseguinte não se sentem infimamente tocados a lhe manifestar nenhuma simpatia. A esse propósito, Bauman estabelecera uma distinção muito assertiva quanto aos conceitos de sociedade e comunidade. Para ele, a sociedade na qual o homem tem se inserido em nada lembra a ideia de comunidade em que, teoricamente, o resultado de tudo quanto fosse produzido pela economia de mercado pertenceria a todos os cidadãos, ou seja, todos os bens seriam dispostos de forma igualitária, comum. A utopia baumaniana cai por terra sem dificuldade se tomada, por exemplo, à luz do consumismo sem medida que assola povos de todo o mundo, evidenciando que muita gente tem tanto dinheiro para adquirir coisas que as adquire ainda que não precise delas, malgrado exista uma maioria silenciosa — e silenciada — que permanece carente de artigos os mais elementares, quiçá até da própria comida, alimentando o sonho de algum dia conseguir estar entre os que esbanjam — o que se constitui num problema ainda mais grave. O pensamento de Bauman é tão complexo — e rico — que pode ser transposto também para o universo digital que passou a envolver (e talvez sufocar) o homem desde a segunda metade da segunda década do atual século. As redes sociais compõem o exemplo mais acabado de como mecanismos em origem pensados para desempenhar certo fim, não raro tomam o caminho diametralmente inverso e inspiram constrangimentos, estimulam a coação sobre quem não pensa de acordo com determinada cartilha, espalham informações falsas, estabelecem a difamação como regra banal. O mundo virtual é, lamentavelmente, fonte de ataques em cascata inclusive sobre quem ainda não tem todo o arcabouço a fim de se defender, como a protagonista do brasileiro “Confissões de uma Garota Excluída” (2021), do diretor Bruno Garotti, que conta a história de uma menina tentando sobreviver ao inferno da adolescência. Uma outra espécie de afastamento, muito mais severo porque fisicamente violento e definitivo, é o tema de “A Ausência que Seremos” (2020), do espanhol Fernando Trueba, também diretor de “Belle Époque” (1992), ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1993. Os cinco filmes da nossa lista — duas produções lançadas em 2021, outras duas finalizadas em 2020 e a quinta de 2017 — acabaram de estrear no catálogo da Netflix, ou seja, merecem a sua apreciação.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix