5 histórias reais na Netflix que provam que a vida é mais brutal e imprevisível do que a ficção

5 histórias reais na Netflix que provam que a vida é mais brutal e imprevisível do que a ficção

Qualquer um que tenha passado por uma experiência traumática já depois de adulto sabe muito bem que a vida não faz o menor sentido. Se poderia acrescer, a título de consolo, que a vida não faz sentido e que o sentido da vida somos nós mesmos quem o damos, mas, ainda assim, a afirmação soaria apenas como uma peça de marketing, uma vez que se leva muito tempo, talvez o tempo de toda uma vida, para se saber o que ela quer de nós, além de coragem, como disse Guimarães Rosa (1908-1967), muita coragem. A existência do homem sobre um globo de constituição majoritariamente aquosa que gira livre num universo de uma centena de bilhões de outros planetas, todos em constante mutação, toca as raias da loucura. A única grande questão verdadeiramente significativa para o homem é por que, em meio ao caos de eventos desordenados que se sucedem ad aeternum, prefere continuar vivo, conforme (se) pergunta o filósofo francês Émile Durkheim (1858-1917) em “O Suicídio”, publicado em 1897. Ao se submeter ao exame mais íntimo a que um indivíduo pode se forçar — e que em algum momento da vida reverbera no mais fundo da alma de todos nós —, toda a metafísica do mundo perde a razão de ser. Saber se devemos ou não dar cabo da nossa jornada na Terra, uma vez que a vida não faz sentido, é algo que ninguém pode fazer por nós, apesar de toda indagação, por mais delicada e complexa que seja, ter uma resposta, nem sempre fácil de se encontrar e que quase nunca se apresenta sem que outras dúvidas lhe sobrevenham. Partindo do holandês Baruch Spinoza (1632-1677), o escritor Albert Camus (1913-1960) e o filósofo Gilles Deleuze (1925-1995), ambos franceses, deságuam em conclusões o seu tanto particulares, e controversas entre si. Para Camus, mesmo em sendo Deus imanente a tudo quanto existe, é impossível conhecer o propósito por trás de todas as coisas, exatamente por Deus estar nelas e, destarte, ser Ele o único capaz de conferir à vida do homem alguma significação menos ordinária, o que deixa ao gênero humano a alternativa exclusiva de aceitar a vida como o triunfo do absurdo, a vitória do nada. Deleuze, por sua vez, só acredita na vida como fonte de conhecimento, isto é, enquanto não produzimos novas ideias, ao passo que não criamos conceitos originais, em resumo, durante todo o tempo em que não pensamos, estamos mortos, o que remete a outro pensador, o alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), que fomentou o conceito do Deus lúdico e cruel, que estimula o homem com seus jogos e, ao mesmo se ri dele, porque o sabe inferior e incapaz de vencê-Lo. A cada um compete saber que podemos tudo, mas conforme pregava Paulo de Tarso (5-67), devemos escolher só o que nos é conveniente. Não é fácil; talvez começando por nos livrarmos de um passado que poderia nos condenar o processo se desdobre de um jeito mais simples, ou menos doloroso. Mesmo assim, pode nos colher o acaso e, com ele, vir junto a desdita, caso de um italiano comum, cuja história o diretor Alessio Cremonini reproduz com toda a fidelidade possível em “Na Própria Pele — O Caso Stefano Cucchi” (2018). O inesperado também perpassou a vida do comandante de um navio cargueiro americano, e felizmente, depois de muitas, muitas reviravoltas, o final de “Capitão Phillips” (2013), do britânico Paul Greengrass, é feliz. As histórias de Stefano Cucchi, Richard Phillips e outros três enredos — lançados entre 2018 e 2012, os cinco na Netflix —, nos fazem inquirir a vida, maldizê-la, despejar-lhe pragas, mas igualmente nos deixam maravilhados com todos os seus ardis, em cuja essência há um mundo de aprendizados. A vida de todos nós dá um filme.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix